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Portugal não produzia ventiladores no início da pandemia, como lembra João Oliveira?

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Legislativas 2022
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Frente a Rui Rio (PSD), esta quarta-feira na SIC, João Oliveira (PCP) aproveitou o tempo de debate para tecer duras críticas ao PS, que parecia ser o principal alvo do comunista. Por seu lado, Rio salientou as diferenças em relação ao PCP, nomeadamente as propostas de "nacionalizações". Oliveira defendeu a recuperação do controlo público de setores estratégicos e da capacidade de produção nacional, lembrando, por exemplo, que Portugal não produzia ventiladores quando se iniciou a pandemia em 2020. É verdade?

A estreia de João Oliveira nos debates, em substituição de Jerónimo de Sousa, perante Rui Rio, serviu para lembrar que entre o comunismo do PCP e a social-democracia do PSD há como que um “mar” que alguém abriu: ora os apoios às empresas, ora os aumentos dos salários, ora o papel do Estado e do setor privado. Sem pontos de convergência que não as críticas ao primeiro-ministro António Costa, a estratégia anti-PS parece ter saído vencedora deste desencontro.

Para Rio, líder do PSD, são as empresas que têm que beneficiar de medidas específicas para incentivar a criação de empregos. Para Oliveira, deputado do PCP, a estratégia não passa por aí:

“Criar empregos, e sobretudo criar melhores empregos, não se faz com medidas dirigidas às empresas, faz-se com medidas dirigidas a dinamizar a produção nacional. Nós precisamos de pôr o país a produzir. Em primeiro lugar para não dependermos do estrangeiro e em segundo lugar para satisfazermos as nossas necessidades, para criar emprego e para criar riqueza. Não há medidas dirigidas às empresas que resolvam este problema.”

Terceira ronda de debates, terceira verificação do Polígrafo sobre quem foi mais fiel à verdade dos factos, desta vez no frente-a-frente entre Jerónimo de Sousa e António Costa, líderes do PCP e do PS respetivamente. A partir de temas-chave da discussão de ontem como o chumbo do Orçamento do Estado, a responsabilidade pela crise política, o reforço do SNS ou os aumentos das pensões e dos salários, reunimos uma dezena de "fact checks".

Oliveira tirou ainda uma “lição da pandemia” para o país, já que quando esta começou “nós não tínhamos uma [1] fábrica que produzisse ventiladores em Portugal quando eles eram necessários. Tínhamos uma [1] fábrica que produzia máscaras. Este é um reflexo dramático das políticas do Euro, que levaram ao desmantelamento do nosso aparelho produtivo“, sublinhou.

De facto, os hospitais em Portugal tiveram que operar com ventiladores doados e/ou comprados nos primeiros meses de pandemia, em 2020. Portugal tinha disponíveis 1.142 ventiladores antes do início da pandemia. Com o crescer do número de casos de infeção por Covid-19, o Governo reforçou esse número em quase mais 50%, tendo comprado 535 ventiladores à China.

Só em março de 2020 é que o país começou a equacionar a produção nacional de equipamentos de proteção e ventiladores, que começaria nas semanas seguintes. No que respeita aos ventiladores, a produção ficou a cargo do Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel, que estava então “convertido e focado no projeto de protótipo para a produção em Portugal de ventiladores“.

“O modelo de ventilador capaz de ser produzido industrialmente e de responder às necessidades com qualidade e segurança foi desenvolvido em 15 dias através da colaboração entre médicos, a Faculdade de Medicina da Universidade do Minho, o CEIIA e a indústria. O cronograma prevê produzir os primeiros 100, até final de abril, 400, até final de maio, e a partir daí descentralizar para a indústria, para que nos próximos seis meses haja 10 mil ventiladores produzidos”, anunciou o Governo em comunicado, a 27 de março de 2020.

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Avaliação do Polígrafo:

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