- O que está em causa?Em causa está a evolução dos salários na Função Pública ao longo dos últimos 10 anos, entre 2012 e 2022. De acordo com uma recente publicação no Facebook, os políticos e os magistrados obtiveram aumentos de 31% e 23% respetivamente, ao passo que os médicos e os cientistas passaram a auferir menos 1% e 13% de remuneração. Em resposta à solicitação de leitores, o Polígrafo confere.

"Evolução dos salários em 10 anos: políticos +31%; militares +23%; magistrados +23%; médicos -1%; cientistas -13%. E o povinho na miséria, acorda povo", lê-se no post de 1 de junho no Facebook, remetido ao Polígrafo para verificação de factos.
Aparentemente, esta publicação baseou-se num artigo do "Jornal de Notícias", datado de 26 de junho de 2022, com o seguinte título: "Magistrados e deputados com mais aumentos, médicos ganham menos."
"A evolução do ganho médio mensal das profissões do setor público é muito díspar ao longo dos últimos 10 anos. Os magistrados e os representantes do poder legislativo foram os que mais viram o ganho aumentar. Já os investigadores e os médicos foram os que mais perderam. O balanço da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP) mostra que entre o mês de janeiro de 2012 e o mesmo mês de 2022, os magistrados viram o ganho médio mensal subir de 4.766,90 para 6.233,30 euros, num aumento de 31% que é o maior de todo o setor público. Os representantes do poder legislativo, onde se incluem os deputados, surgem em segundo lugar, com uma subida de 23,7%", informou o referido jornal.

Ou seja, no post do Facebook troca-se a percentagem de aumento dos "políticos" (mais especificamente, os representantes do poder legislativo) pela dos magistrados, além de indicar 23,7% como se fosse 23%, incorrendo assim em significativas imprecisões.
O Polígrafo analisou os dados da fonte primária, a DGAEP, confirmando que os magistrados passaram de um ganho mensal médio de 4.766,90 euros em janeiro de 2012 para 6.233,30 euros em janeiro de 2022 (+31%), ao passo que os representantes do poder legislativo passaram de 2.768,40 para 3.424,60 euros (+23,7%) e os militares de 1.520,40 para 1.849,30 (+21,6%).
Sublinhe-se então mais um dado incorreto: o aumento remuneratório dos militares (ou categoria de "Forças Armadas" nos dados da DGAEP) entre 2012 e 2022 foi de 21,6% e não de 23%.
Pela negativa destacam-se os médicos, cujo ganho médio mensal baixou de 3.691,20 euros em janeiro de 2012 para 3.622,80 euros em janeiro de 2022 (-1,9%), e o pessoal de investigação científica, com uma queda de 3.172,70 euros para 2.749,40 euros (-13,3%).
Mais uma vez, as percentagens indicadas no post em causa não são exatas.
De resto, importa ainda salientar que estes números correspondem ao ganho médio mensal, não à remuneração base média mensal (cujos dados também foram compilados pela DGAEP) que no caso dos médicos, por exemplo, até aumentou ligeiramente entre janeiro de 2012 e janeiro de 2022: de 2.614,30 para 2.639,20 euros (+0,9%).
No caso do pessoal de investigação científica, porém, a remuneração base média mensal também baixou entre 2012 e 2022: de 3.071,60 para 2.639,90 euros (-14,1%).
Outro elemento a ter em conta é que os dados da DGAEP referentes a janeiro de 2022 estão classificados como "provisórios". Mais, na categoria de "representantes do poder legislativo" indica-se (em nota de rodapé) que "inclui representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, abrangendo os membros do Conselho Superior da Magistratura, não magistrados, eleitos pela Assembleia da República; dados não disponíveis para a Assembleia da República e os Serviços de Apoio ao Presidente da República".
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Avaliação do Polígrafo:
