Depois de frases como “menino veste azul e menina veste rosa”, já este ano, ou “Há 16 anos, dizíamos que íamos ter uma ditadura gay no Brasil. O que estamos vivendo hoje? Uma ditadura gay”, em 2014, não admiraria que Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do Brasil, se envolvesse noutra declaração polémica.
A notícia espalhou-se, sobretudo pelo Whatsapp, mas foi originalmente publicada num site chamado Cervejonalista. Dava conta de que a ministra brasileira teria aparecido num vídeo a dizer que as cervejas tipo bock, as mais escuras, fazem apologia ao sexo oral e que, por isso, deveriam ser proibidas.
Porém, a apologia não é responsabilidade da cor, mas do nome. Segundo a publicação, para a ministra, bock faria lembrar boquete, palavra, em português do Brasil, para designar uma prática sexual oral, recebida pelo homem.
Ora, para Damares, a apologia ao sexo oral desvirtuaria os valores da família e das relações sexuais, que deveriam servir apenas para reprodução.
Ainda assim, a cor da cerveja, com tons avermelhados, também seria motivo de desconforto, por fazer lembrar o comunismo. A notícia refere, inclusivamente, uma proibição iminente da bebida alcoólica no país.
Enquanto a história foi galopando pelas redes sociais, uma fotografia da ministra começou a acompanhar o texto. Damares Alves aparece com um copo de cerveja bock na mão, enquanto parece estar a ser entrevistada.
A verdade é que, segundo o site brasileiro de fact-checking e-farsas tudo não passa de uma brincadeira. A fotografia é, afinal, uma montagem. A um frame retirado da entrevista que a governante deu à Globo, no início do ano, um internauta adicionou um copo, numa sobreposição facilmente desmascarável aos olhos dos mais entendidos em técnicas de Photoshop.
Em relação às afirmações, alegadamente polémicas, da ministra, elas foram originalmente publicadas como uma paródia, mas muitos começaram a partilhá-las como se de uma notícia se tratasse, talvez porque não soassem estranho, vidas da boca de uma ministra claramente restritiva nos costumes.
A história pode ser, quase, um paralelismo ao conto do Pedro e do Lobo, mas ao contrário. Várias declarações polémicas verdadeiras, no passado. À primeira vez que são falsas, muitos acreditam que se trata da verdade.
Damares Alves tem 54 anos. Mulher conservadora, pastora evangélica, é contra o aborto e uma crítica da ideologia de género. Além disso, defende, ao contrário da comunidade científica internacional, que a homossexualidade é uma aprendizagem cultural, porque “ninguém nasce gay”.
Avaliação do Polígrafo: