São várias as publicações no Facebook que contestam a participação de Jean Wyllys numa conferência na Universidade de Coimbra. Uma delas, por exemplo, diz: “A universidade de economia de Coimbra convidou este ‘ser’ (não lhe chamo animal porque as bestas de carga merecem-me bem mais deferência do que esta coisa), paladino das esquerdas e amigo das nossas, para botar faladura sobre temas em que é versado, temas esses caros à nossa Mortágua e afins. Será que foi com verbas públicas pagas por nós?”. O desabafo do utilizador da rede social é acompanhado por um meme que garante que, numa entrevista à rádio brasileira CBN, o antigo deputado federal disse: “Precisamos abrir nossas mentes. O pedófilo pode ter papel fundamental no desenvolvimento sexual do menino, ensinando uma sexualidade sadia e livre de preconceitos”.
Apresentados assim, os factos são realmente chocantes, e muitas cabeças podem dar um nó ao questionar-se como é que uma universidade pública convida alguém com este perfil ideológico para partilhar conhecimento com jovens estudantes. A resposta é muito mais fácil do que se possa imaginar: é que os factos não são, na verdade, como têm estado a ser apresentados.
O Polígrafo contactou o organizador da palestra, o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que garante que a participação do ex-deputado federal do Brasil não vai ser remunerada, porque faz parte de um programa de doutoramento em direitos humanos
No meio de tudo, só uma coisa corresponde à realidade: a de que a conferência vai existir. Será no dia 26 de fevereiro, no auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. A conversa vai estar submetida ao tema “Discursos de ódio e fakenews da extrema direita e os seus impactos nos modos de vida de minorias sexuais, étnicas e religiosas – o caso do Brasil”. A partir daqui, tudo é mentira.
O Polígrafo contactou o organizador da palestra, o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, que garante que a participação do ex-deputado federal do Brasil não vai ser remunerada, porque faz parte de um programa de doutoramento em direitos humanos, no qual o brasileiro e o centro de investigação estão integrados. Aliás, nem o político é pago, nem o público tem de pagar para participar. Portanto, cai por terra a teoria de que dinheiros públicos vão patrocinar as palavras, pouco consensuais, de Jean Wyllys.
À luz da verdade, não há dúvidas de que este é um ataque politicamente engajado a Jean Wyllys. Se não o fosse, o PNR, partido de extrema-direita, não tinha organizado uma manifestação contra a presença do também ativista LGBTI na Universidade de Coimbra. O protesto vai acontecer no dia da palestra, 90 minutos antes do início.
Em relação à teoria de que o ativista brasileiro defende a pedofilia, também não é difícil perceber que se trata de um embuste muito antigo. Em 2013, o site de verificação de factos “Boatos.org” desmascarou a notícia falsa, mas não foi o único. Tendo em conta a dimensão e o impacto daquela citação, a própria rádio CBN viu-se obrigada a emitir um comunicado: “A CBN denuncia uma calúnia que vem circulando nas redes sociais contra a emissora. Trata-se de uma informação totalmente falsa sobre uma suposta entrevista do deputado federal Jean Wyllys na qual o parlamentar teria defendido a pedofilia. Tal declaração nunca foi feita na CBN”.
A página de Facebook do Centro de Estudos Sociais também tem sido inundada com comentários a contestar a presença do deputado. Por lá, o Polígrafo encontrou observações como “Vocês deviam ter vergonha! Esse tipo é um asco em forma de gente que defende abertamente a pedofilia. Nojo! Nojo! Nojo!” ou “Rua com este bandido pedófilo.”
À luz da verdade, não há dúvidas de que este é um ataque politicamente engajado a Jean Wyllys. Se não o fosse, o PNR, partido de extrema-direita, não tinha organizado uma manifestação contra a presença do também ativista LGBTI na Universidade de Coimbra. O protesto vai acontecer no dia da palestra, 90 minutos antes do início, por volta das 14h30.
Além disso, a página de Facebook do CES também tem sido inundada com comentários a contestar a presença do deputado. Por lá, o Polígrafo encontrou observações como “Vocês deviam ter vergonha! Esse tipo é um asco em forma de gente que defende abertamente a pedofilia. Nojo! Nojo! Nojo!” ou “Rua com este bandido pedófilo, vocês são tão bons como ele ao dar-lhe a palavra, bandidos”. Pedro Dias da Silva, do CES da Universidade de Coimbra, garante que a maior parte dos comentários são de militantes da extrema-direita, mas que também há alguns de cidadãos que, apesar de não militarem pela ideologia, se deixaram influenciar pelas notícias falsas.
Apesar da contestação crescente, está confirmado que a conferência vai decorrer, não só a de Coimbra, como a de Lisboa. É que, no dia 27, Jean Wyllys desce até à capital, na Casa do Alentejo, onde vai falar sobre a necessidade de exílio, na primeira pessoa, ao lado da viúva de Saramago, Pilar del Río.
A polémica que envolve o ex-deputado brasileiro, do partido de esquerda PSOL, em Portugal, é a continuação do que lhe tem sucedido no Brasil, de onde saiu, em janeiro. Lá, foi acusado de ser o autor da tentativa de homicídio de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral e o exílio é visto por muitos apoiantes do presidente como uma fuga às autoridades. A verdade é que a acusação foi veiculada apenas em notícias falsas. Antes de deixar o pais, Jean Wyllys, opositor assumido de Bolsonaro, foi várias vezes ameaçado de morte, ele e os familiares.
Avaliação do Polígrafo: