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Plano ambiental de Joe Biden inclui corte de 90% de carne vermelha na dieta dos norte-americanos?

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Internacional
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
O alegado plano de Joe Biden para combater as alterações climáticas vai forçar os norte-americanos a reduzir o consumo de carne vermelha em 90%, indica uma publicação no Facebook. O objetivo passa por diminuir as emissões de carbono em pelo menos 50% até 2030.

“Joe Biden prometeu na sexta-feira reduzir as emissões de carbono dos EUA em pelo menos 50% até 2030. Alguns dos requisitos climáticos vão significar grandes mudanças para os americanos“, afirma-se na publicação em causa.

O autor do post explica que “o ambicioso plano de Biden pode significar que os americanos serão forçados a cortar 90% da carne vermelha de suas dietas, o que equivale a cerca de um hambúrguer de tamanho médio por mês” e que “também podem ser forçados a comprar um veículo elétrico de US $ 55.000 de acordo com o plano climático marxista de Biden”.

A publicação inclui ainda um link para uma notícia do jornal britânico Daily Mail sobre o plano de presidente norte-americano e uma captura de ecrã de uma aparente notícia em português, cujo título é “Requisitos Climáticos de Biden: corte de 90% da carne vermelha da dieta; os americanos só podem comer um hambúrguer por mês”.

As alegações são verdadeiras?

A mesma informação já foi verificada e avaliada como falsa pela secção de fact-checking da agência noticiosa francesa Agence France-Press (AFP). No dia 23 de abril, a informação também tinha sido relatada no programa “America Reports” da televisão norte-americana Fox News, no qual John Roberts, um dos apresentadores do programa, disse: “diga adeus aos seus hambúrgueres se quiser aderir ao plano climático de Biden. Esta é a conclusão de um estudo”.

A própria Fox News reconheceu depois o erro e admitiu que a informação fazia parte de um estudo da Universidade do Michigan. “Na sexta-feira, falámos sobre um estudo da Universidade de Michigan (…) de 2020 sobre como a redução no consumo de carne teria um impacto drástico nas emissões de gases. Os dados estavam corretos, mas o gráfico e a legenda mencionavam incorretamente que fazia parte do plano de Biden de combate às alterações climáticas”, disse John Roberts no programa de 26 de abril.

Na investigação intitulada “Implicações de cenários futuros da dieta norte-americana nas emissões de gases de efeito estufa”, são explicados os impactos que algumas mudanças nos hábitos alimentares da população dos Estados Unidos teriam na emissão desses gases.

"'Não há emergência climática', dizem 500 cientistas à ONU". Este é o título de uma publicação que circula nas redes sociais e foi denunciada como sendo falsa ou enganadora. "500 cientistas desmentem a menina Greta e enviaram carta à ONU dizendo que não há nenhuma emergência climática", reitera-se na imagem em destaque no artigo. Verificação de factos.

Em declarações à AFP, Gregory Keoleian e Martin Haller, dois dos autores do estudo, afirmaram que “não têm conhecimento de qualquer ligação entre a investigação e o plano climático de Biden“.

O estudo “apenas identifica certas hipóteses na redução de emissões que resultariam de possíveis mudanças na dieta. De forma alguma sugere que essas mudanças na dieta seriam necessárias para atingir as metas climáticas”, garantem os dois investigadores. Keoleian e Haller esclarecem ainda que a notícia partilhada na publicação “parece ser uma associação errada feita pelo Daily Mail e que foi amplamente divulgada por outras pessoas”.

A informação também foi desmentida pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. “É mentira. Não existe essa política por parte desta administração. Não faz parte do plano climático ou das metas de emissões. Não é real“, disse o porta-voz, Matt Herrick.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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