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Penafiel. Animais desfilam em cortejo em circunstâncias “indignas” e depois são abatidos? Já não é exatamente assim

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Um leitor denunciou ao Polígrafo uma tradição de Penafiel, o "Cortejo do Carneirinho", através de duas fotos. De acordo com a mensagem enviada, cada turma do conselho desfila com um carneiro em circunstâncias “totalmente indignas” e depois abatem-nos. A GNR garante que atualmente o número de animais vivos no desfile é residual e a Câmara Municipal de Penafiel assegura que já não são abatidos como acontecia quando a tradição surgiu.

“Cada turma do concelho adquire um carneiro (são dezenas ou centenas) para oferecer aos professores e desfilam pela cidade com o animal em situações totalmente indignas, antes de o abaterem. Ontem foi só mais um espetáculo ridículo e não entendo como ninguém age contra isto, quero acreditar que por desconhecimento”, destaca-se na mensagem que um leitor enviou ao Polígrafo, onde anexou duas fotos em que se vê um animal transportado num carrinho de criança.

Fonte oficial da Câmara Municipal de Penafiel conta ao Polígrafo que o “Cortejo do Carneirinho” foi criado em 1880. A festa passava por “presentear com um carneiro alguém que merecesse especial admiração ou agradecimento, como era o caso dos médicos, advogados, professores, entre outros”. Tornou-se numa tradição muito enraizada na região do Tâmega e Sousa e também no interior norte, em alguns concelhos.

Hoje, pode ler-se no site da autarquia penafidelense, é um desfile de animação organizado pelos alunos, pais e escolas do pré-escolar e do 1.º ciclo, como forma de reconhecimento e gratidão, pelo empenho de educadores e professores. Naquela altura, as crianças percorriam as ruas exibindo a oferta que iriam fazer ao seu professor. Depois, os animais seguiam do desfile para o matadouro, que na época era atrás do edifício da autarquia.

De acordo com a Câmara de Penafiel, os carneiros que ainda desfilam são sobretudo emprestados para o efeito e já não são oferecidos aos professores como acontecia. “A cada ano que passa são cada vez menos os carneiros vivos, sendo substituídos por bonecos e desenhos ou outras formas de expressão artística”, garante a autarquia, que enviou ao Polígrafo várias fotografias e publicações que retratam a festividade.

créditos: © Facebook CM Penafiel

Também a Guarda Nacional Republicana (GNR) assegurou que “atualmente o desfile tem um número residual de animais vivos, sendo que ao longo dos anos as escolas têm optado por recriar os carneiros em materiais diversos como, por exemplo, materiais reciclados”. A GNR, anunciou através do Facebook a sua presença no desfile de Penafiel.

No que respeita ao abate de animais que acontecia no século XIX, a autarquia de Penafiel aponta que “na atualidade é proibido abater animais em casa, ou noutro sítio qualquer. Ou seja, só há abate de animais nos matadouros dentro das regras específicas de animais de criação, que não é o caso”.

 

créditos: © Facebook GNR – Comando Territorial do Porto

Quando confrontada com as imagens – enviadas ao Polígrafo – de um animal transportado num carrinho de criança, a autarquia admite ter conhecimento e afirma que a situação é “absolutamente lamentável e merece a nossa total desaprovação, mas felizmente é uma exceção”.

A GNR também confirmou que “tem registo de uma denúncia na linha SOS Ambiente, que foi apresentada à Polícia de Segurança Pública (PSP) no dia 9 de junho, sobre o evento escolar em questão”.

Em suma, é verdade que a tradição do “Cortejo do Carneirinho” existe em Penafiel e envolve animais vivos, mas a autarquia e a GNR asseguram que a cada ano que passa o número de animais é cada vez menor, tendo sido substituídos por “peluches ou outras formas artísticas” e já não são abatidos.

Avaliação do Polígrafo:

 

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