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Pedro Passos Coelho disse em 2016 que defenderia o voto à esquerda em caso de “milagre” económico?

Política
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O que está em causa?
Na rede social X, alega-se que o ex-Primeiro-Ministro (PM) social-democrata admitiu, em 2016, que defenderia "o voto no PS, no PCP e no BE" se a "geringonça" orquestrasse uma espécie de "milagre". Sete anos depois, o Prémio Nobel da Economia recorre a essa mesma expressão para classificar o crescimento da economia portuguesa.

“‘Se a estratégia resultar, defenderei o voto no PS, no PCP e no BE‘. Pedro Passos Coelho, 2016″, destaca tweet publicado esta manhã. A capa do “Jornal de Negócios” de hoje é o mote para a recordação: uma entrevista a Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia, dá razão à “geringonça”: afinal, terá havido mesmo uma “espécie de milagre económico”. Mas nem tudo é obra da esquerda. Nem o método é claro.

É verdade que Krugman avaliou a economia portuguesa como “uma espécie de milagre económico“, que seria até caso de estudo “se percebêssemos o que estão a fazer bem”.

“Tive longas conversas com o meu amigo Olivier Blanchard, o antigo economista-chefe do FMI, e ele diz: ‘Não percebo como é que Portugal se saiu tão bem. Como é que eles fizeram isso?’ E há coisas que se podem apontar, algumas delas são as atrações de Portugal, obviamente. O turismo não é trivial, mas também as exportações fazem parte da história. Mas é um pouco misterioso como é que as coisas correram tão bem“, explicou Krugman ao “Jornal de Negócios”.

O Nobel da Economia faz uma importante comparação com o ano de 2013 (com Pedro Passos Coelho no Governo) e diz que são “muito menos” os problemas que se vivem hoje: “Portugal teve um bom período de sucesso económico após a revolução e depois uma espécie de paragem durante alguns anos, mas essa paragem parece ter chegado ao fim.”

Este contexto de aparente “milagre” vem recordar palavras proferidas a 1 de março de 2016 pelo ex-PM Pedro Passos Coelho, numa entrevista à SIC. O social-democrata, derrubado em 2015 pela “geringonça”, assumiu que passaria a “defender o voto no PS, no PCP e no BE”, mas apenas no caso de um “milagre” em que o Governo de António Costa devolveria “os salários todos num ano”, em vez de quatro, e cumpriria outras metas.

Passos Coelho duvidava da estratégia orçamental adotada pelo PS, mas dava o braço a torcer em caso de sucesso: “Se pudéssemos todos, sem dinheiro, devolver salários, pensões e impostos e, no fim, as contas batessem todas certo, isso seria fantástico. Para poder devolver os salários todos num ano e cumprir metas, ou há milagre, ou há consequências“, considerava Passos Coelho.

Ou seja: é verdade que Passos Coelho assumiu defender o voto à esquerda em caso de um “milagre” económico. No entanto, apesar de Paul Krugman recorrer a essa mesma expressão, os indicadores utilizados por um e por outro são distintos: Krugman parabeniza Portugal pelas exportações e pelo turismo, mas Passos pedia a devolução de salários, pensões e impostos (três condições que eram, aliás, bandeira do PS contra a troika e contra o PSD).

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