“Não há nenhum colapso na educação”. Foi com esta garantia que Pedro Nuno Santos assegurou ontem à noite, em entrevista à RTP1, que João Costa é um ministro competente e que os resultados do PISA, divulgados a 5 deste mês, não diferem muito da queda que toda a OCDE sofreu.
“Não há nenhum colapso resultado da política deste Governo. A queda nos resultados do PISA é transversal a todos os países da OCDE”, começou por argumentar Pedro Nuno Santos, que se refugiava assim nas complicações provocadas por um período de guerra e pandemia.
Confrontado pelo jornalista, o ex-ministro negou que os resultados portugueses tenham sido muito piores do que os dos restantes países da Organização: “A queda dos resultados foi na média da OCDE. É verdade. Não tem significado estatístico a diferença.” Tem razão?
O documento disponibilizado pela OCDE, e que traça um percurso pouco favorável para os alunos portugueses entre 2018 e 2022, não é especialmente positivo para outros membros. Aliás, há efetivamente quedas muito mais significativas do que a que aconteceu em Portugal, sobretudo na disciplina de Matemática.
Estas são as classificações totais: na Matemática, Portugal ficou com 472 pontos, exatamente como a média dos países da OCDE. No domínio da Leitura, Portugal conseguiu uma média de 477 pontos, mais um do que a da OCDE. Por fim, nas Ciências, o país ficou com 484 pontos, menos um do que a média de todos os países da OCDE.
Na média da OCDE, em relação aos resultados de 2018, os países caíram 15, 10 e dois pontos nas competências de Matemática, Leitura e Ciências. Em Portugal, a queda, apesar de próxima, foi estatisticamente significativa, como explica ao Polígrafo o especialista do ISPA João Marôco: 21, 15 e 7 pontos nas mesmas disciplinas, respetivamente, ou seja, um tombo de seis pontos a Matemática e de cinco pontos nas outras duas competências.
O investigador e especialista em análise estatística esclarece que “dizer que Portugal caiu para a média da OCDE está correto“, o que não se aplica ao resto da declaração de Pedro Nuno: “Portugal não caiu em linha com a OCDE. Caiu mais.”
Ou seja, apesar de ter caído para a média da OCDE (e de a queda ter sido mais ou menos transversal a todos os países da OCDE), não se pode afirmar que Portugal caiu a par com a OCDE. “A queda de seis pontos [a Matemática] está fora da margem de erro“, exemplifica Marôco, tendo por base os erros que a própria OCDE prevê e que pode consultar aqui (a partir da página 292).
“Uma estimativa, para cada país na OCDE, tem três tipos de erro: o de amostragem, o de estimação e o de ligação. A tabela da OCDE mostra que o erro de ligação entre 2018 e 2022 é de 2.24 pontos, o que quer dizer que a queda de 15 e de 21 pontos é altamente significativa. A regra costuma ser a média mais ou menos dois erros padrão. Ou seja, a queda em 2022, em Portugal e a Matemática, está fora do intervalo de confiança (variação de seis pontos)”, explica o especialista.
Em miúdos, destes cálculos resulta que “a queda de Portugal é mais significativa que a queda da OCDE”, o que contraria assim parte da declaração de Pedro Nuno Santos.
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Nota Editorial 1: Artigo atualizado às 14h07 para acrescentar as declarações de João Marôco sobre a relevância da queda portuguesa face à da média OCDE. A classificação passou de “Verdadeiro” para “Impreciso”. Pedimos desculpa aos leitores pelo erro de análise.
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Nota Editorial 2: Na sequência da publicação deste artigo, o ministério da Educação enviou ao Polígrafo três gráficos onde são comparadas, pelo PISA IDE Analyzer, as diferenças entre a OCDE e Portugal no período 2018-2022. Em todas as três disciplinas, a análise resulta numa “diferença não significativa”. Apesar disso, esta análise, válida, não tem conta o erro de ligação entre ciclos diferentes (aquele que foi considerado por João Marôco, que contribuiu para este artigo, por exemplo). O Polígrafo acrescenta a esta nota os três gráficos remetidos pelo ministério, como forma de esclarecimento.



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Avaliação do Polígrafo: