Logo a abrir a intervenção, uma primeira farpa lançada na direção do Governo de António Costa, aliás como tem sido habitual desde a primeira emissão do programa de comentário político que Pedro Nuno Santos protagoniza na SIC Notícias - em forma de distanciamento e sugestão de alternativa, mas sem "queimar pontes" (na mesma intervenção não deixou de assegurar que terá mantido sempre uma boa relação com Fernando Medina e os anteriores ministros das Finanças, quando exerceu funções no Governo).

"Já ouvimos muitas vezes ser dito que o problema do Serviço Nacional de Saúde não é financeiro. Bom, neste momento nós temos um problema que se arrasta há 18 meses, sem fim à vista, e sinceramente tenho dificuldade em acreditar que o problema não seja financeiro", afirmou ontem o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, em referência implícita a declarações recentes de Medina sobre essa matéria.

Embora lamentando o prolongamento do braço-de-ferro entre o Ministério da Saúde e os sindicatos dos médicos, Pedro Nuno Santos voltou a manifestar a esperança de que vão chegar a um acordo. Sublinhou aliás a importância desse acordo e defendeu que a participação de elementos do Ministério da Finanças nas negociações facilitaria o processo, tendo como base a sua experiência como governante.

Na mesma intervenção, declarou: "É importante que todos percebamos que os médicos perderam muito poder de compra nos últimos anos, estão muito longe face a muitos países na Europa em matéria de remuneração, e nós precisamos urgentemente de ter uma carreira médica que seja mais atrativa. Para que o Serviço Nacional consiga não só mais facilmente recrutar, mas também reter médicos. E por isso é imprescindível que nós consigamos fechar o acordo".

Relativamente ao poder de compra e salários dos médicos, a supracitada alegação de Pedro Nuno Santos tem fundamento?

No mais recente estudo "Health at a Glance 2022" da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estão incluídos dados até 2020 e, no que concerne à remuneração dos médicos, apresenta-se uma tabela com o "rácio em relação ao salário médio" de todos os trabalhadores em 25 países.

Na tabela dividem-se os dados entre médicos de prática geral e médicos especialistas. Tanto no primeiro como no segundo caso, o rácio dos médicos que trabalham em Portugal é superado pelo de muitos outros países.

Em Portugal, os médicos de prática geral têm um rácio de 2,4 (isto é, um rácio em proporção do salário médio de todos os trabalhadores do país), muito inferior ao da Alemanha (4,4), Reino Unido (3,4), Áustria (3,0), Estónia (3,0), França (3,0), Suíça (3,0), Irlanda (2,8), entre outros. Importa porém ressalvar que os dados referentes a estes países correspondem a médicos que trabalham por conta própria, enquanto os dados de Portugal correspondem a médicos assalariados.

Quanto aos médicos especialistas, em Portugal calcula-se um rácio de 2,3, muito abaixo de países como a Irlanda (3,5), Alemanha (3,4), Reino Unido (3,3), Países Baixos (3,2), Itália (2,9) ou Hungria (2,8). As discrepâncias são ainda maiores no âmbito dos médicos especialistas que trabalham por conta própria: países como a Alemanha, Bélgica ou França têm rácios entre 5,1 e 5,4.

Por fim, a perda de poder de compra. No mesmo estudo apresenta-se uma tabela com dados sobre a evolução da remuneração dos médicos, em termos reais, no período entre 2010 e 2020. Mais especificamente: a taxa de crescimento anual médio das remunerações dos médicos, em termos reais.

Além de ser um dos cinco países com evolução negativa, isto é, com perdas reais de poder de compra dos médicos, em Portugal registam-se as quedas mais acentuadas neste indicador: -1,8% para os médicos de prática geral e -1,6% para os médicos especialistas.

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