No final de 2015, logo depois das eleições legislativas, Pedro Nuno Santos tinha uma missão dentro do PS: estabelecer os contactos à esquerda para os acordos de incidência parlamentar. A "geringonça" que criou, com os parceiros do PCP, PEV e BE, valeu-lhe elogios prolongados. Numa entrevista à "Antena 1", em janeiro deste ano, Paulo Raimundo, secretário-geral dos comunistas, reconheceu publicamente "o empenho e a dedicação de Pedro Nuno Santos nesse esforço de construção da solução de 2015. Isso não há como negar e, portanto, sem nenhum problema o afirmo."

Em junho deste ano, na Assembleia da República e a propósito das comissões de inquérito à TAP, já depois de entregar a pasta das Infraestruturas e da Habitação a outros dois socialistas, Pedro Nuno Santos referiu que que a "'geringonça' correu bem para todos e para o povo português (…) Foi bom enquanto durou."

Em fevereiro de 2019, enquanto secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, já tinha afirmado que os entendimentos à esquerda não podiam ser um "mero parêntesis" na história da democracia: "Espero, sinceramente, e isso depende de todos nós, não é só dos dirigentes ou militantes do PS, do PCP, do Bloco ou do PEV, (...) que é preciso haver uma mudança que respeite a maioria do povo: temos a obrigação de garantir que essa experiência não foi um mero parêntesis na história da democracia portuguesa."

O que é certo é que o homem que hoje acompanhou o ex-ministro na apresentação da candidatura à liderança do PS, actual presidente do Conselho Económico e Social, não era da mesma opinião. Francisco Assis, da ala direita do PS, esteve desde o início contra a formação da "geringonça", que chegou a considerar "um expediente político para superar uma derrota eleitoral".

Numa entrevista ao jornal "Público", em 2018, Assis comparou os acordos à esquerda com os "iogurtes", já que ambos têm "um prazo de validade", mas também refletiu sobre os resultados da "geringonça": disse que foram conseguidos porque BE e PCP foram "anestesiados" pelos socialistas.

"Na altura, pronunciei-me desfavoravelmente sobre esta solução parlamentar, porquanto temia que de alguma maneira impedisse o PS de prosseguir um caminho que historicamente o identificava — em particular numa área que era a área europeia. Ao fim destes dois anos e meio o que eu constato é que, felizmente, o BE e o PCP foram relativamente anestesiados pelo PS, um mérito de António Costa", começou por indicar.

"Contentaram-se com uma devolução mais rápida dos rendimentos aos funcionários públicos e aos pensionistas e com uma ou outra medida na área social. Mas, no essencial, naquilo que tem que ver com a política europeia (...) não há nenhuma interferência destes dois partidos na acção governativa", acrescentou Assis. Por esse motivo, aliás, "é que hoje temos esta situação aparentemente paradoxal de termos um governo sustentado no Parlamento pelo PCP e pelo BE que apresenta resultados orçamentais únicos na nossa história recente e que é apresentado em Bruxelas como o exemplo típico de um bom aluno", concluiu o agora apoiante de primeira linha de Pedro Nuno Santos.

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