“O país foi capaz de qualificar a sua juventude. Nós demos um salto em termos de qualificação e de educação impressionante em Portugal. Pais com a quarta classe, com o quinto ano, com filhos licenciados. O país, de facto, deu uma lição, na capacidade que teve em poucos anos de saltar gerações, de se qualificar, e nós hoje estamos ao nível dos países mais desenvolvidos da Europa“, afirmou ontem Pedro Nuno Santos, líder do PS, ao discursar no âmbito de um comício realizado em Portalegre.
Esta última alegação tem sustentação factual?
De acordo com os mais recentes dados (até 2022) do Eurostat, serviço de estatística da União Europeia, entre os 25 e os 64 anos de idade, apenas 31,5% da população portuguesa (nessa faixa etária) tem qualificação ao nível do Ensino Superior.
É a 19.ª menor percentagem nesse indicador entre os 27 Estados-membros da União Europeia, a grande distância de países como a Irlanda (53,5%), o Luxemburgo (52,3%) ou a Suécia (48,6%). E abaixo da média da União Europeia que ascende a 34,3%.
No entanto, Pedro Nuno Santos referiu-se mais especificamente à “juventude”, pelo que devemos analisar os dados referentes à população entre os 25 e os 34 anos de idade.
Nessa faixa etária, 44,4% da população portuguesa tem qualificação ao nível do Ensino Superior. Está praticamente a meio da tabela dos 27 Estados-membros da União Europeia, na 14.ª posição. Aliás, ligeiramente acima da média da União Europeia fixada em 42%.
Contudo, o facto é que permanece a considerável distância de países mais desenvolvidos (e qualificados), nomeadamente a Irlanda (62,3%) e o Luxemburgo (61%) que lideram a tabela neste indicador.
Também os Países Baixos, Suécia, Bélgica, Espanha e França têm percentagens superiores a 50%, acima do nível de Portugal.
Entre os países considerados – em geral – mais desenvolvidos da Europa, apenas a Alemanha (37,1%) tem uma percentagem inferior à de Portugal, devido à especificidade do seu sistema de educação (dual) que privilegia o acesso à formação profissional (mediante um processo de triagem logo aos 10 anos de idade).
Em suma, Pedro Nuno Santos até tem razão ao referir-se a um “salto” na qualificação dos jovens, em comparação com as gerações anteriores, patente na diferença entre as diferentes faixas etárias analisadas no presente artigo. Contudo, extrapola ao concluir que “estamos hoje ao nível dos países mais desenvolvidos da Europa”.
Na realidade, o “salto” foi expressivo, mas na percentagem de jovens com Ensino Superior ainda não alcançou os patamares mais elevados da tabela. Aliás, ainda nem sequer atingiu o nível de 45%, objetivo traçado na União Europeia para ser alcançado até 2030.
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