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Pedro Marques diz que recessão na União Europeia em 2020 foi superior à de Portugal. Confirma-se?

Economia
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
"A União Europeia teve uma recessão de quase 8% e Portugal não chegou aos 7% de recessão no ano passado. E portanto é natural que este ano a recuperação ainda não seja tão acentuada, porque também a queda não foi tão significativa", garantiu ontem Pedro Marques, eurodeputado do PS, corrigindo uma afirmação de Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD, em debate na SIC Notícias. Quem tem razão?

“O rigor dos números é importante neste tipo de debates”, começou por sublinhar Pedro Marques, antigo ministro do Planeamento e das Infraestruturas e atual eurodeputado do PS, propondo-se corrigir uma afirmação que Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD, tinha proferido alguns momentos antes, em debate na SIC Notícias.

“Portugal tem uma recuperação prevista para 2021 e 2022 um pouco abaixo da média europeia, mas exatamente porque no ano passado não teve um comportamento económico tão mau como a União Europeia. É exatamente o contrário do que disse há pouco. Nós no ano passado tivemos uma recessão, é verdade, mas uma recessão menor do que aconteceu na União Europeia. Foi o que aconteceu. A União Europeia teve uma recessão de quase 8% e Portugal não chegou aos 7% de recessão no ano passado. E portanto é natural que este ano a recuperação ainda não seja tão acentuada, porque também a queda não foi tão significativa“, assegurou Marques.

Quem tem razão?

De acordo com o boletim de “Contas Nacionais Trimestrais” publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no dia 26 de fevereiro de 2021 (pode consultar aqui), “em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) registou uma taxa de variação de -7,6% em volume, após um aumento de 2,5% em 2019. Esta contração foi a mais intensa na atual série de Contas Nacionais, refletindo o efeito negativo extraordinário da pandemia Covid-19 na atividade económica”.

A procura interna foi particularmente afetada, passando de um contributo para a variação anual do PIB de +2,8 p.p. em 2019 para -4,6 p.p. em 2020. O consumo privado (Despesas de Consumo Final das Famílias Residentes e das Instituições Sem Fim Lucrativo ao Serviço das Famílias) registou uma variação de -5,9%, em termos reais, e o Investimento diminuiu 4,9% (variações de 2,6% e 5,4%, respetivamente, em 2019). A procura externa líquida apresentou um contributo de -3,0 p.p. (-0,3 p.p. em 2019), com as Exportações de Bens e Serviços a registarem uma diminuição (-18,6%) mais intensa que a observada nas Importações de Bens e Serviços (-12,0%), destacando-se o significativo contributo negativo das exportações de serviços”, informou o INE.

Em publicação nas redes sociais exibe-se um gráfico com a suposta evolução do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal nos últimos anos que culmina numa queda de 16% em 2020. Na imagem aparece também o primeiro-ministro António Costa e a seguinte citação: "E foi aqui que o meu Governo deixou o PIB português". Verificação de factos.

Também em fevereiro de 2021, o Eurostat, gabinete de estatísticas da União Europeia, publicou uma estimativa rápida (pode consultar aqui) indicando que, no ano de 2020, o PIB diminuiu 6,8% na Zona Euro e 6,4% no conjunto da União Europeia. Ou seja, de acordo com estes dados preliminares (ainda sujeitos a eventual revisão), a recessão no conjunto da União Europeia foi inferior à de Portugal, exatamente ao contrário do que garantiu Marques, evocando a importância do “rigor dos números”.

Mais recentemente, em março de 2021, o Eurostat publicou outra estimativa rápida (pode consultar aqui) em que apresentou valores diferentes para a queda do PIB em 2020, a saber: 6,6% na Zona Euro e 6,2% na União Europeia. Ou seja, ainda mais distante do nível de recessão (7,6%) estimado para Portugal no ano transacto.

Baptista Leite ainda tentou refutar Marques, mas o eurodeputado do PS insistiu na sua correção e apontou para “as previsões económicas da Primavera” de 2021 da Comissão Europeia. De facto, esse documento existe (pode consultar aqui), tendo sido publicado em maio de 2021.

O problema é que confirma, precisamente, o erro de Marques, ao informar que “em 2020, a economia da União Europeia registou uma contração de 6,1% e a da área do euro de 6,6%”. Ao passo que Portugal sofreu uma queda de 7,6% do PIB, consubstanciando uma das mais maiores recessões entre os Estados-membros da União Europeia no ano em causa.

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Avaliação do Polígrafo:

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