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Pedro Frazão: “Todos os anos, cerca de quatro a cinco mil enfermeiros portugueses vão para o estrangeiro”

Política
O que está em causa?
Com recurso a um indicador que não existe, o deputado do Chega homenageou os enfermeiros portugueses com um vídeo publicado no Instagram. Apesar de dizer que quatro a cinco mil enfermeiros saem do país todos os anos, Pedro Frazão é contrariado por números da Ordem dos Enfermeiros. E ainda pelo número de enfermeiros que Portugal forma todos os anos.

Num vídeo partilhado no Instagram, o deputado do Chega argumentou que, anualmente, saem de Portugal quatro a cinco mil enfermeiros. Os dados da Ordem dos Enfermeiros, no indicador mais próximo (de pedidos para efeitos de emigração), não o confirmam, pelo que o argumento de Pedro Frazão é desinformado e pouco fidedigno.

O Polígrafo solicitou à Ordem dos Enfermeiros os dados sobre a emigração da classe, mas a verdade é que este indicador simplesmente não existe: o que existe, sim, são os números sobre os pedidos de declarações para efeitos de emigração solicitadas à Ordem, que não conseguem revelar, com precisão, se o número de emigrantes é maior ou menor.

No fundo porque há pedidos que nunca chegam a ser concretizados (o enfermeiro solicita o documenta mas não emigra) e porque há enfermeiros que emigram sem documentação e não ficam registados no sistema. Depois, há ainda a emigração temporária: enfermeiros que saem do país durante uns meses, mas que voltam e deixam de se qualificar como emigrantes.

Ainda assim, é fiável guiarmo-nos por este indicador para perceber as tendências de emigração (e os anos em que mais enfermeiros pretenderam emigrar). Por exemplo, em 2010 foram solicitadas apenas 179 declarações, ao passo que em 2011 este número cresceu para as 2814. Em 2013 desceu para as 2514 e, em 2014, subiu para as 2850. Em 2015 o número aumentou pela última vez até 2018, ano em que se registaram 2736 pedidos, mais do dobro do que no ano anterior. Em 2019 foi um ano recorde: a Ordem recebeu 4506 pedidos de declarações para efeitos de emigração, um número que baixou drasticamente em 2020 e em 2021 para os 1230 e 900, respetivamente.

Em 2022 foram 1162 os pedidos e, em 2023, o número cresceu para os 1689. Em média, desde 2010, início de série, foram pedidos anualmente um total de 1998 documentos para emigração à Ordem dos Enfermeiros. Este número está muito longe do mencionado por Pedro Frazão, que ter-se-á baseado apenas no ano recorde. Ainda assim, é importante reforçar que as saídas efetivas de enfermeiros para o estrangeiro não têm sido contabilizadas, pelo que não existe um indicador que nos possa garantir que atingem as quatro ou cinco mil por ano. Há, no entanto, uma estatística que permite perceber o quão deslocados estão os dados de Frazão: em Portugal, formam-se em média três mil enfermeiros por ano. Se saíssem, anualmente, cinco mil do país, Portugal já teria um saldo negativo de profissionais da área.

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Avaliação do Polígrafo:

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