Na CNN Portugal, esta quinta-feira à tarde, o deputado do Chega, Pedro Frazão, comentou a ação da PSP no Martim Moniz e enfrentou a socialista Ana Catarina Mendes: “A sra. eurodeputada invocou o século passado, mas não precisa de ir tão longe. Veja aqui: esta operação policial foi em 2008 no Porto. Temos aqui uma rua inteira de pessoas encostadas à parede. Sabe quem era o Primeiro-Ministro? Era José Sócrates.”
A eurodeputada não hesitou nas palavras e disse que, ainda assim, achava uma “vergonha” e que condenava a situação, mas não sem dizer que tinha dúvidas sobre a veracidade do documento apresentado por Frazão. Será que as provas do deputado do Chega são mesmo irrefutáveis?
Sim. A 25 de setembro de 2008, segundo uma notícia da madrugada seguinte da “TVI24” (anterior à mostrada por Pedro Frazão), a PSP realizou “várias operações policiais de prevenção à criminalidade em bairros do Porto”. Segundo a mesma pela, “pelos menos três locais terão sido ‘fechados’ pela polícia”, inclusive o bairro do Aleixo, cuja demolição já tinha começado.
“Os vários agentes do Corpo de Intervenção da PSP obrigaram os cidadãos a encostarem-se a um muro, de modo a que fossem revistados”, descreve o texto, que diz que a operação teve ainda em vista a “fiscalização de viaturas”.
A notícia não é única e o momento também foi acompanhado pela agência Lusa (aqui citada pelo jornal “Público“), que indicou que o “dono de três estabelecimentos nocturnos do Porto” foi “indiciado por tráfico de droga”. Além disso, especificou que “estiveram 160 polícias nos bairros de Vila d’Este, em Vila Nova de Gaia, Alberto Sampaio, em Vila do Conde, e Aleixo, no Porto” e que foram apreendidos “um crachá policial, duas pistolas de calibre 6,35, uma réplica de arma de fogo, munições e várias armas brancas, 272 dólares norte-americanos e 8100 euros, cinco auto-rádios, 22 telemóveis, duas câmaras vídeo, uma máquina fotográfica, cinco computadores e três LCD, haxixe para 285 doses individuais, cocaína para 134 e heroína para 150”.
A explicação para as ações era mais ou menos a mesma que existe agora: “prevenção da criminalidade em três bairros problemáticos do Grande Porto, visibilidade policial e o aumento do sentimento de segurança das populações.”
Segundo a Lusa, tal como a intervenção policial no Martim Moniz que aconteceu esta semana também esta “agastou alguns moradores que se queixaram mesmo de agressividade dos agentes”. O chefe de operações da PSP justificou-o assim: “Este tipo de intervenção tem que ser robusta, com alguma força, com alguma afirmação. Na mesma medida em que temos algumas opiniões adversas, também as temos favoráveis.”
Uma frase semelhante àquela que agora é dita pela PSP dias depois de uma fotografia com várias pessoas encostadas à parede na freguesia de Santa Maria Maior começar a circular. “Toda a operação decorreu com muita tranquilidade, sendo que os próprios cidadãos que foram objeto daquela operação muitos deles nos deram os parabéns pela forma como a operação estava a decorrer”, revelou o superintendente Luís Elias numa conferência de imprensa na sede do Comando Metropolitano de Lisboa.
A principal e incontornável diferença entre as fotografias é o tom de pele das pessoas encostadas à parede: se em 2008, no Porto, eram maioritariamente brancos, agora no Martim Moniz a situação foi bastante diferente.
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