A pergunta era sobre o que separa o PAN do Livre em matéria ambiental, na medida em que farão parte do mesmo grupo político – os Verdes Europeus – se forem eleitos para o Parlamento Europeu, depois de Pedro Fidalgo Marques ter salientado – na entrevista ao portal “Sapo” (24 de maio) – que “há aqui uma grande diferença, que passa pela forma como encaramos a conservação da natureza e a proteção ambiental e também a proteção e o bem-estar animal”.
Na resposta, Fidalgo Marques começou por referir que “o ano 2023 foi o mais quente dos últimos 100 anos. Prevemos que 2024 continue igual. Há um estudo que diz que as pessoas nascidas nos anos 60 passaram por qualquer coisa como quatro ondas de calor, mas alguém nascido no anos 20 deste século vai passar por mais de 30 ondas de calor ao longo da sua vida”.
Posto isto, apontou para “toda uma questão de gestão de água, gestão de recursos naturais”, sublinhando que “uma questão em que o PAN se diferencia do Livre é a da Política Agrícola Comum e a questão da carne. Gastamos 1.500 litros de água para produzir um bife, o mesmo que é necessário para satisfazer as necessidades básicas de 14 pessoas”.
Na perspetiva do candidato do PAN, “talvez devêssemos começar a discutir esta transição para uma alimentação mais à base vegetal. Não estamos a dizer que as pessoas têm de deixar de comer carne e têm de ser vegetarianas – apesar de os estudos indicarem que mais de um milhão de pessoas em Portugal já tem dieta vegetariana ou tendencialmente vegetariana”.
Confirma-se que “gastamos 1.500 litros de água para produzir um bife”?
A metodologia mais utilizada para calcular a quantidade de água potável suficiente para produzir um alimento ou mercadoria consiste na denominada “Pegada Hídrica”, desenvolvida pelo cientista neerlandês Arjen Hoekstra, no âmbito de um trabalho de investigação do IHE Delft Institute for Water Education, nos Países Baixos.
Através dessa metodologia, a plataforma Water Footprint Network disponibiliza uma ferramenta online que mede o consumo direto e indireto de água em todo o ciclo de produção, da cadeia de suprimentos até ao consumidor final de um determinado produto.
De acordo com esses cálculos, a “Pegada Hídrica” média global inerente à produção de um quilograma de bife é de 15.400 litros.
Fidalgo Marques referiu-se a “um bife”, pelo que estaria a apontar para 100 gramas de carne e daí o total de cerca de 1.500 litros.
A alegação do candidato do PAN tem assim fundamento. Mas importa ter em atenção que estes valores oscilam acentuadamente entre diferentes regiões do planeta. Depende de fatores como o tipo de sistema de produção (pastoreio, mista ou industrial) e a composição e origem da ração dos animais.
O tipo de carne também resulta em valores diferentes: a “Pegada Hídrica” da carne bovina é superior às da carne de porco e do frango.
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