- O que está em causa?Em novembro de 2013, dois dias antes das primeiras manifestações de protesto dos ucranianos na praça Maidan, Paulo Portas anunciava, no seu primeiro dia de visita à Rússia, o objetivo de captar investimento em Portugal. Consigo estavam Adolfo Mesquita Nunes e Nuno Vieira de Brito. Ao contrário do que disse esta quinta-feira o deputado do PCP Bruno Dias, João Cotrim de Figueiredo ficou em terra.

"Preocupa-nos [ao PCP] que o sr. deputado que, em 2013, constituiu uma delegação que foi à Rússia à procura de vistos 'gold', certamente terá o contacto do sr. Putin. Não venha fazer essa ligação ao PCP, porque sabe muito bem que o PCP não tem nada que ver com essa concepção social, nem do Presidente da Federação Russa nem daquela sociedade". João Dias falava diretamente para o assento de João Cotrim de Figueiredo na Assembleia da República (AR), na discussão plenária desta quinta-feira (29).
O Polígrafo já avaliou acusações como esta em março de 2022, quando circulavam apenas nas redes sociais. Será verdade que o ex-líder dos liberais fazia parte do grupo que viajou até à Rússia em 2013?
A viagem aconteceu: há uma década, meses antes da invasão da Crimeia, uma delegação do Governo português viajava até Moscovo. Paulo Portas, então vice-Primeiro-Ministro, queria captar investimento em Portugal e "estabelecer contactos quer na área da agricultura, quer na área do turismo", segundo escreveu a Agência Lusa. "Concordámos no trabalho que ainda temos que fazer para poder acionar acordos que facilitam o investimento: turismo, energia, telecomunicações e transportes aéreos são acordos importantes para haver facilidades nas trocas comerciais entre os dois países".
Mas quem seguia com o vice-Primeiro-Ministro? Com Portas estavam os secretários de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, e da Alimentação e Investigação Agro-Alimentar, Nuno Vieira de Brito. Além destes, segundo a Agência Lusa, estiveram ainda presentes o então ministro da Economia, António Pires de Lima, e o presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, Pedro Reis.
O ministro da Economia declarou, na altura, que seria "expectável" que as relações económicas entre Portugal e a Rússia se intensificassem, porque apesar de a "evolução comercial estar a ser muito positiva, há ainda um mar de oportunidades enorme para conquistar por empresas portuguesas na Rússia". Isto, ou até o interesse de algumas empresas ou empresários russos em investir em Portugal, "nomeadamente numa área crescentemente mais apetecível, que é a área do turismo residencial".
É aqui que entra João Cotrim de Figueiredo. O agora deputado estava prestes a assumir o cargo de Presidente da Turismo de Portugal (já tinha sido escolhido pelo Governo, mas formalmente iniciou funções no dia 8 de dezembro de 2013), mas não participou na viagem a Moscovo, ao contrário do que acusa Bruno Dias. No entanto, a sua ligação à promoção dos vistos gold não é infundada. Isto porque o já mencionado "turismo residencial" está diretamente ligado ao "Turismo de Portugal".
Leia-se um comunicado lançado a 28 de fevereiro de 2014 pela mesma entidade: "Recentemente, o Governo reforçou e alocou mais meios aos serviços de emissão de vistos de turismo e dos vistos gold, que dão termo de residência em Portugal, de forma a atrair mais turistas, sobretudo de mercados como a Rússia. Este reforço consiste numa partilha de meios técnicos e humanos do Turismo de Portugal, sendo os encargos financeiros suportados pelo Instituto."
"Na área do turismo residencial, o portal www.livinginportugal.com (disponível também em russo) promove a oferta no estrangeiro, divulgando o país enquanto destino para residência, incentivando à compra de casa em empreendimentos turístico-imobiliários ou em zonas com vocação turística. Este plano de divulgação do turismo junto do mercado russo contempla também ações de divulgação como um roadshow junto dos consumidores, principais operadores especializados, fundos imobiliários e agentes financeiros na Rússia", lê-se no documento.
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Avaliação do Polígrafo:
