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Paulo Portas: “Não raramente, Passos Coelho dizia que queria ir além da ‘troika'”

Política
O que está em causa?
A resposta tardou, mas chegou. Paulo Portas reagiu no último domingo à entrevista dada por Pedro Passos Coelho ao jornal "Observador", em que este revelava que a 'troika' "percebeu que havia um problema com o CDS-PP". Elencando os pontos de convergência e divergência entre ambos, Portas afirmou que a expressão "ir além da troika" foi utilizada "não raramente" pelo antigo Primeiro-Ministro. É verdade?

A entrevista de Pedro Passos Coelho ao “Observador”, publicada no dia 15 de abril, agitou a política nacional. Desta vez, recordando os tempos da troika, o antigo Primeiro-Ministro apontou que o grupo de ajuda externa “percebeu que havia um problema com o CDS” e “não confiava nele [Paulo Portas]“.

Quatro dias depois de estas declarações serem públicas, o antigo líder do CDS-PP reagiu no seu espaço de comentário na CNN, abordando, entre outras questões, as “zonas de diferença que são normais numa coligação de dois partidos”.

Sobre a subida na Taxa Social Única (TSU), uma das medidas do pacote de austeridade a que Portugal esteve sujeito que foi substituída por um “enorme aumento de impostos”, Paulo Portas lembrou este domingo, no seu espaço de comentário semanal na TVI: “Não raramente, o dr. Pedro Passos Coelho usava a expressão do ir além da Troika. Eu sempre fui mais cético sobre essa ideia. Embora também seja justo dizer que essa ideia se aplicava sobretudo a reformas e não a medidas.”

Confirma-se que Passos Coelho dizia várias vezes que era necessário ir além da troika?

Sim. Ainda antes de chegar ao Governo, a 9 de maio de 2011, já o líder do PSD defendia que se deveria ir além do memorando e dizia logo ao que vinha. Afirmando que o programa eleitoral do PSD não era “um programa cor-de-rosa construído na estratosfera” e que trazia “medidas duras“, o antigo Primeiro-Ministro prometia “respeitar” a troika, mas avisava: “Este programa está muito além do memorando.” Exemplos disso eram “a paragem do TGV de ligação entre Lisboa e Madrid” e o plano de privatizações da troika não defender todas as privatizações, mas o PSD querer que isso se estendesse “aos órgãos de comunicação social”.

Meses depois, já no Governo e perante mais de 600 autarcas na sessão de encerramento do congresso da Associação Nacional de Municípios, Passos Coelho admitia que o Executivo foi além das medidas da troika para que Portugal pudesse regressar mais cedo aos mercados internacionais.

“Todo o país entende como vital o bom desempenho orçamental, sob pena de não termos novamente condições de crescimento na sociedade portuguesa”, garantia. Passos Coelho assumia que, “independente daquilo que foi acordado com a UE e o FMI”, Portugal tinha “uma agenda de transformação económica e social decisiva para pôr fim a modelos de endividamento insustentáveis” e que, por isso, o Governo não incluiu no seu programa “apenas as orientações que estavam incorporadas no memorando de entendimento como várias outras que, não estando lá, são essenciais para o sucesso desta transformação”.

Um ano mais tarde, esclarecia que o seu Governo “não instituiu metas mais austeras nem mais severas que o memorando de entendimento” e que a meta era a mesma. “Ninguém quer ir além da troika na austeridade”, mas, queriam sim “ir além da troika na transformação estrutural da economia“. Por fim, defendia que “as medidas de contenção financeira são exactamente as que são necessárias para atingir as metas que estão acordadas” e justificava que “a condição de partida não era aquela que estava retratada quando o memorando de entendimento foi elaborado”.

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