O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Paulo Núncio no Now: “Sócrates disse que tinha deixado um défice de 6% mas depois foi revisto para 11%”

Política
O que está em causa?
O deputado do CDS-PP responsabilizou o PS pelas medidas de austeridade do período da "Troika" e justificou que o Governo de Passos Coelho só foi "além da 'Troika'" porque a situação financeira do país era pior do que tinha sido assegurado pelo Governo de Sócrates.
© Agência Lusa / Pedro Nunes

A escolha de Maria Luís Albuquerque para Comissária Europeia reavivou o debate em torno da memória do período da Troika, marcado pelas medidas de austeridade que foram aplicadas pelo Governo de coligação PSD/CDS-PP, liderado por Pedro Passos Coelho – e no qual Albuquerque exerceu os cargos de secretária de Estado do Tesouro (2011-2013) e ministra das Finanças (2013-2015).

Em debate ontem à noite (28 de agosto) no Now, o deputado João Torres (do PS) associou as políticas de austeridade a Albuquerque, levando Paulo Núncio (atual deputado do CDS-PP e secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no Governo de Passos Coelho) a responsabilizar o PS – mais especificamente o Governo de José Sócrates – pela intervenção da Troika e subsequentes medidas de austeridade.

Torres ainda contra-argumentou que o Governo de Passos Coelho “foi além da Troika“, ao que Núncio respondeu que isso resultou do facto de ter deparado com “uma situação financeira pior” do que esperava e tinha servido de base ao acordo com a Troika. “O engenheiro José Sócrates disse que tinha deixado o país com um défice de 6%, mas o défice em 2010 foi de 11%“, afirmou.

Tem razão neste último ponto?

Sim. O défice das Administrações Públicas em 2010 começou por ser estimado em -6,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Logo em março de 2011, porém, foi revisto em alta para 8,6% do PIB.

Seguiram-se outras revisões e, de acordo com os dados atuais do Banco de Portugal, fixou-se em -11,4% do PIB.

Recorde-se que só em maio de 2017, ao fim de cerca de sete anos e sete meses (ou cerca de 2.780 dias), é que a Comissão Europeia anunciou que o Estado Português saiu do Procedimento por Défice Excessivo.

“Este é um dia importante para Portugal. Recomendamos a revogação do Procedimento por Défice Excessivo para Portugal e esperamos que os Estados-membros apoiem a nossa recomendação”, comunicou então Valdis Dombrovskis, vice-presidente da Comissão Europeia.

O referido Procedimento por Défice Excessivo, isto é, um défice acima do limite de -3% do PIB estabelecido nas regras comunitárias, tinha sido aberto em outubro de 2009, quando estava em funções o Governo do PS liderado por José Sócrates.

Até à queda de Sócrates com o pedido de resgate financeiro da Troika em 2011, aliás, registaram-se défices historicamente elevados: -9,9% em 2009, –11,4% em 2010, -7,7% em 2011.

Durante o período do Governo de coligação PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho, entre 2011 e 2015, o Estado Português continuou a violar as regras comunitárias do défice excessivo, apesar de uma diminuição significativa: de -7,7% em 2011 para –4,4% em 2015.

Já no período de governação de António Costa, do PS, além da saída do Procedimento por Défice Excessivo, importa salientar o primeiro superávite da democracia portuguesa: +0,1% em 2019.

_____________________________

Avaliação do Polígrafo:

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Em destaque