"Não é correto nem justo, sobretudo para quem está no terreno, dizer que tudo falhou nos últimos anos, porque isso não espelha a realidade dos factos". A garantia foi dada por Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Proteção Civil, em resposta aos grupos parlamentares que ontem, na AR, criticaram a atuação do Governo face aos fogos rurais que todos os verões assolam o país.

Para a secretária de Estado, porém, os números não mentem, sobretudo aqueles que "estão plasmados nos diferentes relatórios do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF)" e que mostram que o Governo conseguiu "reduzir o número diário de incêndios rurais para valores que não existiam há anos".

Patrícia Gaspar lembrou até de alturas críticas em que, "nas salas de operações da Proteção Civil, registávamos por dia 400/500 incêndios". Mas será verdade que o número de incêndios rurais tenha descido tanto e para valores tão significativamente baixos?

Seguimos o caminho indicado por Gaspar: os relatórios provisórios de incêndios rurais do IFCN, que abrangem o período de janeiro a outubro de cada ano, mostram dados distintos. É certo que, no período compreendido entre 1 de janeiro e 15 de outubro de 2021, registaram-se "um total de 7610 incêndios rurais que resultaram em 27.118 hectares de área ardida, entre povoamentos (8.118 ha), matos (16.144 ha) e agricultura (2.856 ha)".

"Comparando os valores do ano de 2021 com o histórico dos 10 anos anteriores, assinala-se que se registaram menos 54% de incêndios rurais e menos 79% de área ardida relativamente à média anual do período (quadro 1). O ano de 2021 apresenta, até ao dia 15 de outubro, o valor mais reduzido em número de incêndios e o segundo valor mais reduzido de área ardida desde 2011", acrescenta o relatório.

Ainda assim, o ano mais recente com dados disponíveis é 2022. E nele, o cenário não foi assim tão positivo: mais uma vez entre 1 de janeiro e 15 de outubro de 2022, foram registados um total de 10.449 incêndios rurais, que resultaram em 110.007 hectares de área ardida". Comparando os valores do ano de 2022 com o histórico dos 10 anos anteriores, "assinala-se que se registaram menos 29% de incêndios rurais e menos 12% de área ardida relativamente à média anual do período", mas o ano passado foi apenas o quarto com valor mais reduzido em número de incêndios.

O Polígrafo consultou ainda o relatório final do AGIF, cuja missão é fazer o "planeamento, coordenação estratégica e avaliação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR)", e que foi publicado a 26 de janeiro deste ano, onde se lê o seguinte: "Um dado relevante para avaliar a resposta do sistema de combate é a ocorrência diária de incêndios ao longo de cada ano, expresso pelo número de ocorrências e de área ardida, que traduz a extensão e a perigosidade dos dias mais críticos de cada ano."

Esse indicador, mencionado por Patrícia Gaspar, foi trabalhado pelo AGIF tendo em conta, numa primeira fase, os dados de Portugal para o período de 1980 a 2019, que revelam que o número de ocorrências médias diárias em Portugal foi bastante superior entre 2000 e 2019 face aos 20 anos anteriores (1980-1999).

Alargando estes dados a 2022, a conclusão é que, neste último ano, não tendo "o número diário de incêndios sido dos mais elevados, foi em geral superior ao que se observou em alguns dos anos estudados". Além disso, "a área ardida diariamente foi muito elevada, ao longo de um período muito extenso do ano, ao contrário do verificado noutros anos".

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Avaliação do Polígrafo:

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