“Cuidado para não tomar paracetamol que está escrito P 500. É um paracetamol novo, muito branco e brilhante, os médicos alertam que contém o vírus ‘Machupo’, considerado um dos vírus mais perigosos do mundo, com alta taxa de mortalidade. Por favor, compartilhe esta mensagem com todos da sua lista de contatos e com sua família, e salve uma ou mais vidas”, lê-se numa mensagem enviada ao Polígrafo, que supostamente está a ser partilhada pelo WhatsApp.
O Machupo é um vírus endémico com origem na Bolívia que causa a doença vulgarmente conhecida como febre hemorrágica boliviana, predominantemente transmitido por ratos e com uma taxa de mortalidade estimada entre 25 e 35%. Mas será que também poderá estar presente nesta tipologia de comprimidos?
Não, a denúncia em questão é totalmente falsa e foi inclusivamente objeto de inúmeros fact-checks.
O Polígrafo África chegou a verificar uma publicação do Facebook, com a mesma mensagem em dezembro de 2024. O post é acompanhado por uma imagem de uma lamela com a inscrição “Paramol”,pelo que se depreende que o alerta é relativo à substância ativa Paracetamol, em dosagem 500.
Com esta ou outras formulações, têm sido diversas as publicações nas redes sociais (com impacto em quase todos os continentes) que apontam para o perigo mencionado.
A explicação para a impossibilidade de contaminação é científica e bastante simples: vírus como o “Machupo” precisam de água para sobreviver, e comprimidos sólidos não oferecem esse ambiente.
“Um vírus jamais poderia sobreviver num comprimido. Ele é sólido. Se tem água, não chega a 1% (…) Em medicamentos biológicos, poderia ser um pouquinho mais suscetível [essa possibilidade], embora ainda improvável. Só que, em formulações secas, está fora de cogitação”, disse ao portal brasileiro UOL o professor Marcelo Muscará, do Departamento de Farmacologia da Universidade de São Paulo.
Desde logo, esta característica é suficiente para que o Machupo não pudesse estar contido num fármaco que é seco (menos de 1% de água). Assim, a sua conservação ou desenvolvimento estaria desde logo comprometido, não sendo necessário sequer outras evidências científicas para invalidar a teoria que se tornou viral nas redes sociais.
Devido a repercussão da denúncia, as entidades responsáveis pela área dos medicamentos de diferentes geografias emitiram comunicados onde desmentiram o que era alegado, garantindo que se tratava de um boato e que não há qualquer perigo por inexistência de associação entre o referido medicamento e o vírus Machupo. Assim sucedeu, pelo menos, no Equador (Arcsa); Brasil (Anvisa); Chile (ISP); França (ANSM ao jornal “Le Monde“) Moçambique (Ministério da Saúde ao jornal “Folha de Maputo“); Singapura (HSA) e Malásia (NPRA).
É assim falso que o Paracetamol 500 ou qualquer outro fármaco (sob a forma de comprimido) possa conter o vírus Machupo.
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Avaliação do Polígrafo: