"Portugal deve ter o melhor sistema de saúde pública do mundo. Para detectarem 10.000 casos positivos por dia em média, teriam de testar 200.000 pessoas por dia. Ou seja, nos últimos meses já testaram toda a população duas vezes. Agora eu pergunto. Quantas vezes já fizeste o teste? Eles só enganam mesmo os estúpidos", pode ler-se na publicação em causa, sugerindo que o número divulgado de casos positivos em Portugal não corresponde à realidade.

Verdade ou falsidade?

De acordo com os dados compilados no portal "Our World In Data" (da Universidade de Oxford, Reino Unido), a percentagem de testes positivos em Portugal a 4 de fevereiro, último dia com informação disponível, era de 18,1%, média contínua relativa aos 7 dias anteriores. À mesma data, o número de testes realizados rondava os 49.000, dos quais 7.914 positivos (16,1%).

Há algumas variações na linha que traça esta variável, mas não houve nenhum dia em que Portugal tenha registado 200.000 testes, nem nos períodos mais graves da pandemia. O pico do número de testes diários realizados, aliás, foi atingido a 22 de janeiro deste ano: um total de 76.965. Nos dias seguintes, a média de casos positivos atingiria valores máximos, na ordem das 15.000 novas infeções diárias.

Ainda assim, importa salientar que o número de testes efetuados é diferente do número de pessoas testadas, pelo que é falacioso inferir que um determinado número de testes corresponda a ter a população testada duas vezes. Na verdade, mesmo que tivéssemos em consideração essa variável, a alegação continuaria a não ter sustentação factual: se atentarmos nos valores absolutos, foram efetuados, desde o início da pandemia e até ao dia 4 de fevereiro, 7,5 milhões de testes. 

Tendo em conta que, em Portugal, cada pessoa infetada faz, em média, dois testes - um inicial que confirma a infeção e um último que confirma a recuperação -, um mesmo indivíduo pode englobar vários testes. A estes é ainda necessário somar os periódicos que são feitos a profissionais de saúde ou de outras áreas, independentemente de terem ou não sintomas que sugiram a presença do coronavírus. Isto torna, desde logo, a alegação enganadora. 

Falsa também é a correlação que a publicação estabelece entre um número mínimo de testes e um mínimo de infetados. Na verdade, se tivermos em conta as percentagens de testes positivos nos dias em que Portugal registou médias de 10.000 casos diários, entre 13 e 17 de janeiro, terão sido feitos cerca de 55.000 testes, apenas um quarto do número apontado na publicação. Mais uma vez, os dados compilados no "Our World In Data" vão de encontro a estes números: entre esses dias foram realizados em média 50.000 testes por dia, 18% dos quais positivos.

Em suma, é falsa a alegação de que em Portugal seria necessário testar 200.000 pessoas por dia de forma a detetar 10.000 casos positivos. Em boa verdade, aliás, o facto de não se poder saber com rigor quantos testes, afinal, são feitos a cada pessoa torna imprecisa qualquer comparação que possa ser estabelecida. Dos 7,5 milhões de testes realizados em Portugal, desde o início da pandemia, apenas 770.000 confirmaram infeções, ou seja, 10%. Os números indicados na publicação sob análise não têm fundamento.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações "Falso" ou "Maioritariamente Falso" nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

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