“Alarme alimentar! A União Europeia autorizou a utilização de pó de larvas inteiras em alimentos como pão, queijo e massas! Tudo isso sem que a maioria dos consumidores tenha ideia do que está a ser colocado na sua comida! Esta é mais uma etapa da Agenda 2030, que quer substituir proteínas tradicionais por insetos sem transparência nem respeito pela escolha dos cidadãos”, destaca-se numa publicação no X/Twitter do partido ADN, datada de 9 de março.
Em causa está o facto de a Comissão Europeia ter aprovado o consumo do pó de larvas inteiras de Tenebrio molitor (tenébrio) tratado com radiação UV ” e de a medida permitir que este passe a ser colocado em alguns alimentos.
A decisão teve por base uma “avaliação científica rigorosa” efetuada pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar que determinou que o alimento em questão não representa perigo para a saúde humana.
Por não concordar com a medida, o partido ADN anunciou uma campanha nas redes sociais sobre a introdução de produtos à base de insetos nos alimentos. “O ADN não aceita esta imposição! Lançámos uma campanha nas redes sociais e com vários outdoors para denunciar esta situação e exigir transparência total e impedir que esta aberração avance sem o consentimento informado da população”, consta ainda na publicação.
Para compreender se as alegações têm fundamento, o Polígrafo entrou em contacto com Luís Miguel Cunha, professor associado c/ agregação da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Investigador integrado do GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável/FCUP.
O investigador indica que o “alarme criado não é correto” e destaca que “a incorporação destes novos alimentos como ingredientes alimentares, para a produção dos referidos alimentos: pão, queijo e massa, obriga à sua inequívoca identificação na rotulagem”.
Uma vez que o consumo das proteínas de insetos pode conduzir a reações alérgicas, nomeadamente para quem já sofra com alergias pré-existentes a crustáceos e ácaros, todos os alimentos que tenham na composição proteína de inseto têm que ter a indicação dos potenciais alergénicos. O mesmo se aplica para a venda avulso ou a granel, sem embalagem e rotulagem prévia.
O professor Luís Miguel Cunha refere que é falsa a alegação de que a Agenda 2030 queira substituir proteínas tradicionais por insetos.
“A Agenda 2030 é um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adotados por países-membros da ONU em 2015. O foco da Agenda 2030 está na erradicação da pobreza, proteção do meio ambiente e garantia da prosperidade para todos. Entre os temas abordados, há questões como segurança alimentar e sustentabilidade, mas não há nenhuma obrigação ou imposição sobre o consumo de insetos”, explica.
Existem vários benefícios associados ao consumo de insetos, tanto a nível ambiental como nutricional. A agência da Agricultura e dos Alimentos das Nações Unidas indica que os insetos são uma fonte de alimento altamente nutritiva e saudável, com um elevado teor de gordura, proteína, vitaminas, fibras e minerais e que, por isso, constituem uma alternativa de proteína mais sustentável.
O Parlamento Europeu divulgou um estudo em abril de 2024 sobre proteínas alternativas e a necessidade de “uma consideração de cenários não lineares” devido ao impacto da produção alimentar nas alterações climáticas. Nesta análise, os insetos e as algas surgem como as melhores alternativas às proteínas tradicionais, embora seja destacada a necessidade de um maior aprofundamento nesta área.
Não é a primeira vez que o um produto à base de insetos é aprovado para o consumo. Até ao momento, de acordo com Luís Miguel Cunha, a “EFSA já transmitiu 8 pareceres positivos sobre a utilização de insetos edíveis para alimentação humana, que incluem as espécies larvas de Tenebrio molitor e Alphitobius diaperinus (larva-da-farinha), Locusta migratoria (gafanhoto migratório) e Acheta domesticus (grilo doméstico), sob diferentes formas de consumo (congeladas, secas, pó, parcialmente desengorduras)”.
No entanto, tal “como nenhum género alimentício cuja produção e comercialização sejam aprovadas por Lei é imposto aos cidadãos, o mesmo se aplicando aos géneros alimentícios que contenham algum dos insetos comestíveis aprovados pela União Europeia”.
“O eventual problema pode estar junto dos consumidores que não estão acostumados a ver esses ingredientes em alimentos industrializados. Se há preocupação sobre o consumo involuntário de insetos, a melhor forma de evitar é ler os rótulos com atenção, uma vez que as pessoas são devidamente informadas do que realmente estão a consumir”, salienta o investigador.
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Avaliação do Polígrafo: