"Ontem à tarde deparei-me com esta situação no posto de abastecimento de Sesimbra", aponta um leitor do Polígrafo, em mensagem enviada à redação, questionando sobre se "será legal o que estão a fazer?"

Exibe duas imagens do que parece ser uma bomba de gasolina da BP, nas quais se destaca o seguinte aviso: "Informamos que ao utilizar cartões Multibanco internacionais será debitado automaticamente 100 euros por imposição bancária mais o valor do abastecimento."

É verdadeiro? E, confirmando-se, a prática é legal?

Questionada pelo Polígrafo, fonte oficial da marca BP confirma a autenticidade do aviso e justifica que resulta de "um procedimento bancário, transversal a diferentes setores de atividade".

"A BP informa que a situação descrita trata-se de um procedimento bancário, transversal a diferentes setores de atividade que envolvam pagamentos bancários, e que é aplicado sempre que é feita uma transação com um cartão bancário estrangeiro num terminal de pagamento automático", responde.

"O banco de origem do respetivo cartão, para autorizar a transação, cativa 100 euros para que o cartão seja autenticado. O cativo é assim feito pela entidade bancária que, após a validação da transação, devolve a diferença entre o valor cativo e o valor a pagar, podendo demorar até cerca de uma semana até efetuarem este acerto", explica.

Por estar em causa um procedimento bancário, o Polígrafo contactou também o Banco de Portugal que confirmou o procedimento e explicou como é feito.

"Quando é realizada uma operação com cartão, o prestador de serviços de pagamento (PSP) do comerciante envia ao PSP emissor um pedido de autorização, habitualmente pelo montante da operação de compra efetiva, de forma a confirmar a disponibilidade dos fundos. Com base nesta autorização, o PSP emissor bloqueia os fundos na conta do titular do cartão, assegurando o pagamento daquela operação ao comerciante", informa o Banco de Portugal.

Este montante bloqueado (ou "cativo"), segundo o Banco de Portugal, "tem sido considerado uma prática bancária que, embora não se encontre expressamente estabelecida no enquadramento regulamentar da União Europeia, é utilizada como uma ação preparatória de uma operação que está em curso e que, previsivelmente, será concretizada".

"O cativo é lícito desde que não seja feito em desconformidade com as normas legais que possam ser concretamente aplicáveis às operações de pagamento que lhe subjazem e sejam previamente comunicadas aos utilizadores dos serviços de pagamento em causa (e.g. através das condições gerais de utilização do cartão)", assegura.

Relativamente aos 100 euros aplicados no posto da BP, o Banco de Portugal explica que "em algumas situações, por exemplo quando o montante da compra não é conhecido no momento em que a autorização é solicitada ao PSP emissor, é habitual que a autorização seja efetuada por um valor pré-definido pelo comerciante".

"Uma vez determinado o valor efetivo da compra, o PSP do comerciante comunica esse valor ao PSP emissor, refletindo este o valor real na conta do titular do cartão e libertando o valor previamente autorizado sem demora e, o mais tardar, imediatamente após a receção da ordem de pagamento", detalha.

Esta é uma prática "utilizada com frequência" no abastecimento de combustível em postos em que o serviço é desempenhado pelo cliente (bombas self-service). "Nestas situações, a autorização da operação com cartão é efetuada em momento prévio ao abastecimento da viatura e, por esta razão, o montante não está ainda definido. Uma vez concluído o abastecimento, o PSP do comerciante informa o PSP emissor do montante efetivamente abastecido, sendo este refletido sem demora na conta do titular do cartão", garante o Banco de Portugal.

  • Vídeo mostra que posto de combustível do Intermaché tinha gasóleo contaminado com água?

    A denúncia surgiu no Facebook e tornou-se viral através de milhares de partilhas. Depois de um abastecimento com gasóleo aditivado num posto do Intermarché, o automóvel começou "a soluçar e desligou-se". Na oficina descobriu-se que o tanque estava cheio de água, em vez de gasóleo, o que causou estragos com "custos avultados". Esta história é verdadeira?

"Em algumas situações, por exemplo em operações de pagamento efetuadas com recurso a cartões estrangeiros ou realizadas em terminais estrangeiros, poderá acontecer que a comunicação do montante efetivo da compra demore cerca de dois dias úteis, consoante as regras aplicáveis ao processo de compensação e liquidação específico", conclui.

Ou seja, o aviso é real e a prática é legal. Mas há que ressalvar que a quantia debitada é posteriormente devolvida. É um procedimento bancário que funciona como uma espécie de caução, provisória, cujo valor é determinado pelo comerciante nos casos em que não se sabe previamente qual é o valor da compra (como no abastecimento de automóveis).

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Avaliação do Polígrafo:

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