Um padre franciscano, com um voto de pobreza, recebe 7.450 euros de pensão mensal. É esta a crítica que circula na blogosfera e nas redes sociais sobre Vítor Melícias, antigo comissário para a transição de Timor para a independência e ex-administrador do Montepio. O valor avançado em diversos artigos é apontado como sendo de 2007 e terá como base uma declaração entregue pelo padre no Tribunal Constitucional. Na totalidade, o rendimento declarado nesse ano seria de 111.491 euros, dos quais 104.301 eram provenientes de pensões.
“Não é isso que eu recebo”, afirma Vítor Melícias ao Polígrafo. “Eu tenho três origens de pensões, todas derivadas do trabalho e iguais às de qualquer pessoa que trabalhou nas mesmas circunstâncias”, acrescenta.
As três pensões descritas por Melícias:
- Uma da segurança social, respeitante aos descontos que fez durante a sua vida activa
- Outra enquanto associado do Montepio, que Melícias considera “uma pensãozeca”
- Por último, uma “compensação salarial” que os estatutos do Montepio preveem para quem tenha exercido cargos na administração na fase em que a organização transitou do estatuto de voluntariado para o profissional – e Melícias foi administrador durante cinco anos. “Decidiu-se fazer uma compensação a prever que quem estivesse alguns anos na administração teria um complemento quando se reformasse”, diz Melícias.
Total das pensões:
- 1590 euros líquidos da Segurança Social
- 3000 euros líquidos do Montepio
Total recebido: 4590 líquidos
“Para falar a verdade, os 7.000 euros não recebo, nem nada que se pareça”, vinca o sacerdote, reforçando que “o número referido na altura deveria ser o valor bruto”.
O Polígrafo fez as contas tendo por base os valores da tabela de retenção na fonte referente ao ano de 2019: para um indivíduo solteiro com remunerações mensais até 7.540 euros – aquele que é referido nos artigos críticos do padre – a taxa de retenção é de 39,5%, o que implica um desconto de 2.942,75 euros. Ao subtrair esse valor à pensão em bruto resultam 4.597,25 euros, o que corresponde a um valor próximo do valor líquido referido por Vítor Melícias.
No entanto, o padre sublinha que o dinheiro é entregue ao Convento do Varatojo, em Torres Vedras, onde vive. Como explicou ao Polígrafo, da totalidade que recebe, 3.000 euros “vão para a conta dos frades” enquanto o restante está numa conta com o nome de Vítor Melícias e do ecónomo da província dos frades. “Eu tenho a administração direta [da conta] mas nós não temos direito de propriedade, aquele dinheiro não é meu”, acrescentou. O sacerdote reforçou ainda que nada do que recebe é “ilegal” nem resulta de “benefícios”.
Trata-se, portanto, de informação verdadeira, mas que não deve ser lida sem que esteja devidamente inserida no seu contexto: Melícias recebe, realmente, o valor em causa, mas na prática o dinheiro não é seu.
Avaliação do Polígrafo:
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