- O que está em causa?Os números foram divulgados pelo "Instituto + Liberdade", no dia 22 de setembro, e surgem a propósito da crise habitacional e da falta de alojamento para estudantes que entraram este ano para o Ensino Superior. "A procura de habitação (medida pelo número de transações) disparou desde 2014: de 69 mil para 166 mil. No entanto, o número de novos fogos tem aumentado pouco, sendo menos 60% do que se verificou em 2009", salienta-se. O Polígrafo confere.

O preço das casas aumentou 58% desde 2009 (ou 74% desde 2014)? Esta é a principal conclusão de uma análise feita na última semana pelo "Instituto + Liberdade". Em publicação difundida nas redes sociais destaca-se que "Portugal tem um grave problema relacionado com o mercado de habitação, ou melhor, com a capacidade financeira da maioria da população para adquirir habitação aos preços que se praticam atualmente (especialmente nos grandes centros urbanos)".
"O preço das habitações disparou ao longo da última década em Portugal, sendo que os rendimentos dos portugueses cresceram a um ritmo lento neste período, tornando a aquisição de habitação um sonho quase inalcançável para grande parte da população. Com a inflação a atingir valores históricos e com a subida das taxas de juro no crédito à habitação, que se começa a verificar (e com previsão de forte crescimento nos próximos meses), o panorama não irá certamente melhorar", prossegue-se no texto em causa.

Porque é que isto acontece? Há "um desequilíbrio que se começou a verificar em 2014 e que, desde então, se tem vindo a agravar". A acrescentar a isso, "as graves crises económico-financeiras (Grande Depressão de 2008 e Crise das Dívidas Soberanas na Europa, que obrigou à intervenção externa em Portugal), 'arrefeceram' o mercado da habitação em Portugal, levando à quebra da procura, da nova oferta e dos preços".
"A procura de habitação disparou, tendo o número de transações de alojamentos familiares passado de 69 mil, em 2014, para 166 mil, em 2021 (um recorde, logo após uma ligeira quebra relacionada com a pandemia Covid-19). Entre 2009 e 2021 houve um incremento de 66%. Por outro lado, a oferta tem recuperado a um ritmo muito mais lento, sendo que o número de novos fogos concluídos apenas recuperou de 8 mil, em 2014 (7 mil em 2015, o ano em que se verificou o menor número de construções), para 19 mil, em 2021, sendo 60% inferior ao que se verificou em 2009. Em 2021, as novas construções representavam apenas 11% das transações de alojamentos", conclui-se.
O Polígrafo consultou o número de transações de alojamentos familiares, assim como o número de fogos concluídos em construções novas para habitação familiar e o índice de preços na habitação. Uma análise ao primeiro indicador, cujos dados são disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), demonstra um aumento bastante significativo no número de transações.
Por exemplo, em 2009, primeiro ano com dados disponíveis, foram transacionadas 103.092 habitações, num montante total de 12 mil milhões de euros. A partir desse ano o número de transações diminuiu quase consecutivamente até meados de 2013, tendo atingido um mínimo histórico de 13 mil casas transacionadas precisamente no primeiro trimestre desse ano. Os valores só retomaram à trajetória pré-troika em 2015/2016 e, desde então, têm disparado significativamente.
Só no ano passado, 2021, foram transacionadas 165.682 habitações em Portugal, somando valores na ordem dos 28 mil milhões de euros. Estes dados batem certo com os números em destaque na publicação do "Instituto + Liberdade", mas traduzem-se num aumento percentual de 61% (e não de 66%).
No que respeita ao número de fogos concluídos em construções novas para habitação familiar, a verdade é que desde 2009, ano em que foram construídas 47.915 novas casas, até 2015 (ano com 7.126 novos fogos), este indicador esteve em trajetória decrescente. Ainda que o cenário tenha melhorado com a chegada de António Costa ao Governo, a verdade é que Portugal continua a construir um número baixo de habitações anualmente. Em 2021, por exemplo, foram construídas (entre T0, T1, T2, T3, T4 e outras tipologias) apenas 19.081 casas, menos 60% do que em 2009 - e mais 166% do que em 2015.
Olhando agora para os preços das habitações em Portugal, as estatísticas anuais do Eurostat mostram que as casas aumentaram em 58% o seu valor entre 2009 e 2021. Desde 2014 que o preço dos fogos tem aumentado consecutivamente face ao ano anterior, sendo que esse crescimento foi mais notório em 2018 (10,3%), 2019 (10%), 2020 (8,8%) e 2021 (9,4%).
_____________________________________
Avaliação do Polígrafo:
