“Um café com…” Este era o mote da entrevista ao líder do CDS-PP, Nuno Melo, que foi emitida ontem à noite (17 de janeiro) pela CNN Portugal, e o café escolhido – quase que com vista para a Assembleia da República – teve um relevante peso simbólico. O antigo deputado disse que ainda se lembrava “muito bem” do caminho para aquele local que visitava frequentemente, inclusive para “conspirar”, nos tempos em que integrou o Grupo Parlamentar do CDS-PP, entre 1992 e 2005.
Saltou depois para o Parlamento Europeu, onde permanece desde 2009, ao passo que o CDS-PP deixou de ter representação na Assembleia da República (pela primeira vez desde a fundação da democracia portuguesa) em 2022. Foi nesse contexto singular de crise que Melo assumiu a liderança do partido criado em 1974 (ainda sem a sigla PP de Partido Popular que seria introduzida em 1993, sob a liderança de Manuel Monteiro) por Diogo Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Basílio Horta, entre outros.
Em 2024, porém, Melo dá como garantido o regresso do CDS-PP à Assembleia da República, através do acordo de coligação pré-eleitoral com o PSD e o PPM que resultou numa renovada versão da Aliança Democrática (AD) – a mesma denominação da fórmula de sucesso que resultou em duas vitórias consecutivas nas legislativas de 1979 e 1980, toldada pela morte de Francisco Sá Carneiro (líder do então PPD/PSD) num desastre de avião a 4 de dezembro de 1980. Tudo depende dos resultados nas urnas de voto, mas a segunda posição da lista de candidatos da “Aliança Democrática” pelo círculo do Porto torna muito provável a eleição de Melo como deputado.
Na entrevista, além dessa celebração antecipada do regresso à Assembleia da República, e respondendo a uma subtil provocação (se a AD era “a melhor coisa que podia ter acontecido ao CDS-PP”), Melo contrapôs que “é a melhor coisa que podia ter acontecido a Portugal“. E falou do futuro, desde logo sobre a dificuldade de qualquer partido vir a obter uma maioria absoluta no atual contexto político, desafiando o PS a deixar governar a AD se esta vencer as legislativas por mais um voto (ou seja, em maioria relativa).
Mas também falou do passado, voltando a sublinhar que a coligação Portugal à Frente (formada por PSD e CDS-PP) “venceu as eleições legislativas de 2015“. Pelo que, argumentou, o desempenho dos dois partidos na governação “foi validada” com esse resultado eleitoral. E como explicar então as subsequentes derrotas em 2019 e 2022? A esta questão, Melo começou por salientar que os dois partidos mudaram de líderes.
Posto isto, desenvolveu o seguinte raciocínio: “Diz-me que a política é uma realidade muito dinâmica. E que não devemos dar como certo nada e que temos principalmente que trabalhar muito para merecer resultados que não são para todo o sempre. A circunstância de termos vencido eleições em 2015, depois desse ciclo muito difícil, e mais tarde, separadamente, os partidos terem tido um mau resultado… Em primeiro lugar mostra o enorme potencial eleitoral do PSD e do CDS cada vez que se juntam. Nunca em eleições legislativas quando o PSD e o CDS se juntaram perderam essas eleições.”
Esta última alegação tem fundamento?
A primeira experiência de coligação pré-eleitoral entre PSD e CDS foi mesmo a já referida AD que venceu as legislativas de 1979 (45,26% dos votos, 128 deputados) e de 1980 (47,59% dos votos, 134 deputados).
Em 2002, o PSD de Durão Barroso formou Governo em coligação com o CDS-PP de Paulo Portas, para garantir uma maioria absoluta ao nível parlamentar, mas concorreram separadamente. Ou seja, foi uma coligação pós-eleitoral. Tal como em 2011, entre o PSD de Pedro Passos Coelho e o CDS-PP de Paulo Portas.
De facto, a única coligação pré-eleitoral entre PSD e CDS além da AD de 1979-80 ocorreu em 2015, através da coligação Portugal à Frente. E formalmente venceu as eleições, na medida em que conquistou mais votos (38,5%) e mandatos de deputados (107). Mas não foi suficiente para assegurar uma maioria absoluta e o breve segundo Governo liderado por Passos Coelho foi prontamente derrubado na Assembleia da República pelos partidos (PS, BE, PCP e PEV) que se juntaram para formar uma “geringonça” alternativa.
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Avaliação do Polígrafo: