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Nuno Crato diz que em 2012 já era conhecido o problema da falta de professores, mas na altura afirmava que havia docentes a mais?

Política
O que está em causa?
Com "docentes a mais" e uma redução substancial no número de professores entre 2011 e 2015, será que Nuno Crato, ex-ministro da Educação de Pedro Passos Coelho, diz agora que, nessa altura, o problema já era conhecido?
© António Cotrim/Lusa

No X, a coerência do ex-ministro da Educação de Pedro Passos Coelho está a ser posta em causa depois de Nuno Crato afirmar, em debate na CNN Portugal, que o problema da falta de professores já é conhecido desde “2012 ou 2013”. Mas será que, nesses anos, Crato fez parte “de um Governo que cortou quase 30 mil professores” e disse que havia “professores a mais”?

Esta manhã, na CNN Portugal, em debate frente a João Costa, ministro da Educação do último Governo de António Costa, Crato afirmou que, afinal, a falta de professores nas escolas não é um problema novo. “Na realidade, nós sabemos há muito tempo que há e havia uma falta de professores. Essa falta está anunciada desde pelo menos 2012 e 2013, porque nessa altura a DGE fez um estudo muito rigoroso que estava de imediato motivado pelo alargamento da escolaridade obrigatória (…) Isso alertou-nos imediatamente para o facto de que passado alguns anos iria haver falta de professores”, explicou o ex-governante.

Na verdade, a sua lógica indica que em 2012 já era possível antever um problema de falta de professores. Mas, na altura, Crato acreditava que havia docentes a mais. Em setembro de 2012, por exemplo, o então ministro da Educação de Pedro Passos Coelho afirmava, em entrevista ao jornal “Sol“, que havia profissionais a mais e que a “redução de professores” seria “inevitável nos próximos anos”.

“O que se está a passar é o resultado de várias coisas que são mais fortes do que nós. A primeira delas é a redução da população escolar, em cerca de 200 mil alunos nos últimos anos (cerca de 14%). É uma diminuição brutal. O que temos sempre dito é que os professores do quadro são necessários e que, além disso, há algumas necessidades mais. No futuro imediato vamos continuar a assistir a necessidades muito limitadas de contratação”, disse.

Já quanto aos “30 mil professores” mencionados no “tweet”, a verdade é que o “Perfil do Docente 2020/2021”, último documento com dados sobre esse período publicado pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, apresenta dados que confirmam este número. No ano letivo 2010/2011 – que já no final incluiu a tomada de posse do primeiro Governo de Pedro Passos Coelho -, contabiliza-se a existência de um total de 141.452 docentes no setor público (29.604 do 1.º Ciclo, 31.062 do 2.º Ciclo, e 80.786 do 3.º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário). Em 2015/2016, último ano letivo da responsabilidade de Passos Coelho, eram apenas 113.511 docentes (25.706 do 1.º Ciclo, 20.946 do 2.º Ciclo, e 66.859 do 3.º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário).

Feitas as contas, é uma diferença de 27.941 professores em atividade nos referidos ciclos de ensino, um valor próximo dos 30 mil apontados no “tweet”.

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Avaliação do Polígrafo:

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