O novo confinamento iniciado em Portugal no dia 15 de janeiro resultou numa diminuição do número de novos casos de infeção por dia, segundo demonstram os dados oficiais. Desde 27 de janeiro, o dia com o maior número de novos infetados, um total de 16.432, esse indicador tem vindo a baixar continuamente até aos 1.677 novos casos anunciados ontem, dia 14 de fevereiro. A última vez que se tinham registado menos de 2.000 novos casos tinha sido no dia 27 de dezembro de 2020.

Apesar da clareza destes números, em diversas publicações nas redes sociais alega-se que o número de testes à Covid-19 terá diminuído no decurso do novo período de confinamento, sugerindo uma correlação direta entre menos testes e menos novos casos de infeção.

Estão a fazer-se menos testes durante o período de confinamento?

De acordo com os dados compilados no portal "Our World in Data", da Universidade de Oxford, não é verdade que estejam a ser efetuados menos testes. Pelo contrário, em Portugal nunca se testou tanto como neste período.

Em janeiro de 2021 foram realizados 1,64 milhões de testes no global, o equivalente à soma dos testes realizados em março, abril, maio, junho e julho de 2020. Entre 1 e 10 de fevereiro de 2021, último dia com dados disponíveis, totalizaram-se 410.700 testes, um número praticamente idêntico (403.671 testes) ao que foi registado no período homólogo de 1 a 10 de janeiro de 2021.

Após o pico de 74.499 testes realizados no dia 27 de janeiro, o número de testes por dia tem vindo a diminuir até aos 34.542 testes de 10 de fevereiro. Essa diminuição relativa poderá estar na origem do equívoco patente nas publicações sob análise, na medida em que, ainda assim, continua a ser um número superior de testes do que em quase todo o ano de 2020.

A título de ilustração, compare-se o dia 31 de dezembro de 2020 (em que se registou o número máximo de novos casos de infeção por dia em todo o ano de 2020, um total de 7.627) com o dia 10 de fevereiro de 2021 (em que se registou o número mínimo de testes diários, 34.542, desde o início do novo confinamento a 15 de janeiro). Ora, no dia 31 de dezembro de 2020 foram realizados 36.734 testes, praticamente ao mesmo nível de 10 de fevereiro de 2021, mas resultando em quase o dobro de casos positivos: 7.627 e 4.387, respetivamente.

Outro elemento a ter em conta é que o número de novos casos começou a baixar a um ritmo superior ao da diminuição (relativa, voltamos a sublinhar) do número de testes durante o período de confinamento.

Por exemplo, no dia 27 de janeiro registou-se o número máximo de novos casos desde o início da pandemia, 16.432 no total, mediante 71.228 testes. Dois dias depois, a 29 de janeiro, o número de novos casos tombou para 12.435, mas o número de testes permanecia muito elevado, 67.800 no total.

Saltando para o dia 3 de fevereiro temos 7.914 novos casos e 54.045 testes, ou seja, continuava a testar-se mais do que em qualquer momento de 2020, enquanto o número de novos casos se aproximava da média de novembro de 2020, quando se realizavam entre 20 a 40 mil testes por dia.

Questionado pelo Polígrafo, Ricardo Mexia, epidemiologista e presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, sublinha que "se houvesse uma mudança no padrão de positividade, poderia ser um indício de que, de facto, houve uma mudança no padrão de testagem". Porém, não foi isso que aconteceu. "O padrão de positividade já era muito elevado", afirma.

A taxa de positividade reflete o número de testes positivos no total de testes realizados. No início do ano, esse valor rondava os 17%, longe dos 5% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "Se o nível de positividade não mudou, não é crível que a tendência de descida de casos seja fictícia. Podemos estar a falhar alguns casos e a ter demora no seu diagnóstico, mas não é uma mudança de padrão. Não foi por isso que os números baixaram", conclui Mexia.

Em suma, trata-se de uma análise complexa, dependente de muitas variáveis, desde as mudanças climatéricas até ao número de pessoas a que corresponde o número de testes realizados, passando até pelas novas variantes do próprio coronavírus. Ainda assim, parece ser seguro concluir que o número de testes à Covid-19 não diminuiu no período de confinamento, pelo contrário, e que o confinamento terá contribuído - em maior ou menor escala - para o decréscimo do número de casos positivos.

_________________________________

Avaliação do Polígrafo:

Assine a Pinóquio

Fique a par dos nossos fact checks mais lidos com a newsletter semanal do Polígrafo.
Subscrever

Receba os nossos alertas

Subscreva as notificações do Polígrafo e receba os nossos fact checks no momento!

Em nome da verdade

Siga o Polígrafo nas redes sociais. Pesquise #jornalpoligrafo para encontrar as nossas publicações.
Falso
International Fact-Checking Network