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Novos autocarros do serviço Metrobus em Vila Nova de Gaia são movidos a água?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Numa mensagem enviada ao Polígrafo, um leitor indica que "o presidente da Câmara de Gaia, Vítor Rodrigues, anunciou no dia 14 de julho, em cerimónias pomposas, a colocação de autocarros Metrobus na EN222 movidos a H2O". Ou seja, a água. Verdadeiro ou falso?

“O presidente da Câmara de [Vila Nova de] Gaia, Vítor Rodrigues, anunciou no dia 14 de julho, em cerimónias pomposas, a colocação de autocarros Metrobus na EN222 movidos a H2O“, começa por destacar um leitor em mensagem enviada ao Polígrafo, questionando: “Será mesmo assim?”

E acrescenta uma série de outras dúvidas: “O autocarro seria com capacidade de cerca de 50 pessoas. Será mesmo assim? Serão equipamentos altamente eficientes e modernos. Será mesmo assim? Será que as imagens da inauguração foram apenas poeira para os olhos dos gaienses?”

Colocando o enfoque na principal alegação: é verdade que os novos autocarros do serviço Metrobus em Vila Nova de Gaia são movidos a água (H2O)?

Num artigo da AFP em que se verificava se um veículo poderia ser movido a água, Hua Zhao, vice-reitor da Faculdade de Engenharia da Universidade Brunel Londres, indicou que “a água não pode ser queimada como combustíveis de hidrocarbonetos (gasolina, etanol, gás natural) ou hidrogénio”.

A explicação é a seguinte: os átomos de hidrogénio nas moléculas de água estão ligados a átomos de oxigénio e seria necessária energia (normalmente por eletrólise) para libertar esses átomos de hidrogénio para que se pudessem transformar em combustível.

No entanto, “a energia que é precisa para quebrar essas ligações entre hidrogénio e oxigénio na água acabará sempre por consumir mais energia do que a necessária para os reunir numa célula de combustível ou produzida pelo motor”, sublinhou

Num artigo de 2007 na revista “Nature”, Philip Ball, um dos autores científicos mais prestigiados do Reino Unido e antigo editor da revista científica (durante cerca de 20 anos) para a qual ainda escreve com regularidade, foi perentório: “A água não é um combustível. Nunca foi e nunca será“.

“A água não queima. A água já está queimada – é combustível gasto“, sublinhou.

Mas retornando à apresentação do serviço Metrobus, no dia 14 de julho. Terá o autarca Eduardo Vítor Rodrigues anunciado que os novos autocarros eram movidos a água?

Na página da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia é anunciado o arranque do serviço numa publicação que data de 1 de setembro. Em momento algum se fala em autocarros movidos a água.

Reporta-se, sim, que “no primeiro dia de circulação, os autocarros, para já a biodiesel – e posteriormente a hidrogénio -, chegavam a D. João II repletos de passageiros, todos eles satisfeitos com a novidade, pela proximidade, rapidez e frequência”.

Estes veículos – movidos a biodiesel, segundo informa a autarquia – vão circular “entre a estação de Metro D. João II, na avenida da República, e a zona de Baiza, pela Estrada Nacional 222”.

“Com uma frequência de 10 minutos nas horas de ponta e de 30 nos períodos com menos procura, as viagens serão gratuitas até ao final do ano. A partir de 2024, o serviço será integrado na bilhética Andante”, detalha-se.

Só posteriormente entrarão em circulação os autocarros movidos a hidrogénio. Poderá estar aqui a origem do erro, na medida em que a fórmula química do hidrogénio é H2.

Para esclarecer as dúvidas, o Polígrafo contactou o gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, o qual garantiu que em nenhum momento “foi referido que os veículos seriam movidos a água“.

“Estamos numa fase experimental e, para já, o serviço é assegurado por miniautocarros movidos a biodiesel, mas o objetivo é evoluir para mais e melhores autocarros, elétricos e/ou movidos a hidrogénio“, explicou.

“Nesta fase experimental, o serviço está a ser assegurado por miniautocarros da MGC, o que foi uma forma mais ágil de colocar este serviço em andamento em vez de estarmos à espera do processo de aquisição de viaturas, que é sempre demorado e burocrático. Deste modo, quisemos dar uma resposta imediata às atuais necessidades das pessoas”, sublinhou o referido gabinete em resposta ao Polígrafo.

“Optámos por miniautocarros por se tratar de uma fase embrionária, em que não há um número concreto em termos de procura. O objetivo passa por evoluir para viaturas de hidrogénio ou elétricas, numa solução muito idêntica ao Metrobus da Boavista. As diferenças estão nos horários, no sistema de vaivém e no tipo de motorização”, concluiu.

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Avaliação do Polígrafo:

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