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Novo presidente da “maior empresa pública do setor agroflorestal” nega a existência de alterações climáticas?

Política
O que está em causa?
Em mensagem enviada ao Polígrafo, com um pedido de verificação de factos, chama-se a atenção para o novo presidente do Conselho de Administração da Companhia das Lezírias: Eduardo Oliveira e Sousa. Que supostamente "rejeita as alterações climáticas" e "ignora a ecologia e a economia verde". Confirma-se?
© Agência Lusa / António Pedro Santos

“Oliveira e Sousa, aquele que rejeita as alterações climáticas, que ignora a ecologia e a economia verde, o senhor que defende que a agricultura não deve transitar para uma agricultura mais sustentável, é o novo presidente da maior empresa pública do setor agroflorestal”, denuncia-se num e-mail enviado ao Polígrafo.

Em causa a nomeação de Eduardo Oliveira e Sousa para o cargo de presidente do Conselho de Administração da Companhia das Lezírias. Na página da empresa destaca-se que “é a maior exploração agro-pecuária e florestal existente em Portugal, compreendendo a Lezíria de Vila Franca de Xira, a Charneca do Infantado, o Catapereiro e os Pauis (Magos, Belmonte e Lavouras)”. A nomeação teve início no dia 31 de julho de 2024 e o mandato vigorará até 2026.

Mas confirma-se que Oliveira e Sousa, que foi cabeça-de-lista da AD por Santarém nas últimas legislativas, nega a existência de alterações climáticas?

Não. Por exemplo, num artigo de opinião publicado em setembro de 2019, no jornal “Público”, o ex-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) deixa claro que não nega as alterações climáticas, mas não considera que a eliminação da agricultura possa ser a resposta para combater o problema. Nesse texto, Oliveira e Sousa aponta que a “agricultura é indispensável à vida humana e ao desenvolvimento das sociedades” e que “está na linha da frente no combate às alterações climáticas”.

Na sua perspetiva, “eliminar a bovinicultura em Portugal não é solução para a emergência climática”, antes “pelo contrário”.

Isto porque “sem agricultura e sem agricultores será impossível atingir os objectivos preconizados no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, pois é a atividade desenvolvida pelo ser humano que mais contribui para a captura de gases com efeito estufa (GEE), especialmente no contexto português”.

Três anos depois, em agosto de 2022, noutro artigo de opinião publicado no jornal “Observador”, o ex-presidente da CAP sublinhava que “as alterações climáticas estão na boca do mundo e os seus efeitos começam a fazer-se sentir dramaticamente“, sendo a seca “uma delas”.

Mais recentemente, à luz das declarações do último ano, pode afirmar-se que Oliveira e Sousa mantém a posição de não negar as alterações climáticas, mas não coloca nestas o ónus de todo o problema. No mesmo jornal, em janeiro de 2024, Oliveira e Sousa escreveu que “a verdade vem sempre ao de cima, como o azeite, não se dilui, fica a boiar, bem visível, impedindo que a mentira e a inacção se escondam”.

“Quantas vezes escrevi e alertei em representação dos agricultores para a necessidade de enfrentarmos o monstro que nos invade todos os dias um pouco mais. O monstro é o deserto, o deserto do norte de África, que cavalga ao ritmo das alterações climáticas, saltando o oceano e ‘aterrando’ com as suas patas no Algarve e no sul de Espanha, a primeira terra firme que encontra no processo de conquista do sul da Europa, já em curso”, apontava nesse artigo, não rejeitando a existência de alterações climáticas.

Mais à frente, no mesmo artigo, Oliveira e Sousa questionou se o país estaria à espera de um “milagre”, de acordar de “um pesadelo que apelidamos de alterações climáticas ou de aquecimento global”. E exortou a que se tomassem medidas: “Não estamos a sonhar, estamos acordados, mas quem tem o poder e o dever de decidir, não quer ver e não actua, adia, na expectativa de que o pesadelo passe. Não vai passar. Ou agem, ou assumem a responsabilidade da tragédia já em germinação.”

No final do mês seguinte, em fevereiro deste ano, o então candidato da AD alegou que os problemas da agricultura “são fruto de pressões de um ambientalismo que se radicalizou” e pedia “pontos de equilíbrio” na necessidade de combater as alterações climáticas “que permitam a continuidade da atividade e impeçam o abandono do território”. Considerava ainda que “falsas razões climáticas” estão a prejudicar a economia agrícola e que o então Governo de António Costa estava “preso à ideologia radical de uma extrema-esquerda retrógrada”.

Estas declarações geraram polémica, tendo o Polígrafo verificado a questão. No X/Twitter, por exemplo, comentava-se que “depois da xenofobia e do ataque às mulheres, a AD faz bingo e defende o negacionismo climático“.

Ao longo do discurso em causa, Oliveira Sousa reconheceu que “sempre houve fenómenos extremos“, indicando alguns exemplos do passado, mas não negou explicitamente a existência de alterações climáticas.

Considerando que “o planeta tem vida própria”, o candidato sublinhou que “as alterações em curso são diferentes e são mais recorrentes” e, por isso, “há que deitar mão do conhecimento e dos meios técnicos para encontrar soluções que diminuam os riscos que sabemos que corremos“.

Em declarações ao Polígrafo, o próprio Oliveira Sousa explicou que “a palavra ‘climáticas’ foi mal escolhida” e pretendia dizer “razões ambientais”. Mais, garantiu que não nega a existência de alterações climáticas, até porque os agricultores são “as principais vítimas em termos de atividade económica das alterações climáticas que estão a agravar-se“.

Quanto às acusações de “negacionismo climático”, o candidato disse serem “deturpadas” e justificou: “O que eu quero dizer com isso é que as verdadeiras razões que levam a determinadas proibições são de carácter económico, ou combate à criação de riqueza, e não numa perspectiva de salvaguardar o clima ou a natureza. Portanto, é uma falsa maneira de abordar o problema, foi isso que eu quis transmitir.”

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Avaliação do Polígrafo:

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