Em entrevista à SIC e SIC Notícias, na quinta-feira à noite (21 de março), o presidente do Chega, André Ventura, foi questionado sobre o facto de ter feito “campanha sob o lema ‘Limpar Portugal’” mas, ainda assim, apresentar uma lista de candidatos composta por “nomes que não têm um currículo completamente imaculado”. Exemplo disso seria José Dias Fernandes, “deputado eleito pelo círculo da Europa, que vive em França, mas foi durante anos imigrante ilegal”.
Ao que Ventura respondeu: “O José Dias fugiu à guerra, à ditadura e foi para França. Estávamos nos anos 60, pelo amor de Deus. Não tem nada a ver com a imigração ilegal de que falamos hoje.”
Sublinhou ainda que essa “era uma realidade completamente diferente”, marcada por “uma ditadura que estava a acabar” e “uma guerra”.
No X/Twitter, porém acusa-se Ventura de “voltar a mentir”, pois Fernandes só terá emigrado para França em 1976. “Significa que não fugiu à ditadura nem à guerra nos anos 60″, conclui-se.
Em entrevista concedida, em janeiro de 2022, ao “LusoJornal”, semanário franco-português de informação editado em França, José Dias Fernandes, na altura candidato do Chega pelo círculo da Europa às eleições legislativas de 2022, referiu ter um “conhecimento profundo da emigração”, visto estar perto de contabilizar já, na altura, “46 anos” como “emigrante”.
Também disse – em entrevista mais recente ao mesmo meio de comunicação – que chegou a ser expulso “duas vezes” de França e foi durante a Presidência de François Mitterrand que conseguiu a sua autorização de residência, já na década de 1980.
Por outro lado, numa publicação datada de dezembro de 2021, partilhada na página “Chega França” no Facebook, por altura da mesma campanha eleitoral, o candidato revelou mais alguns detalhes sobre a sua história de vida: “Apresento-me muito rapidamente a quem não me conhece, chamo-me José Dias Fernandes, sou também conhecido por Zé Quino, sou emigrante, português, há 45 anos em França.”
Ora, contas feitas, o recém-eleito deputado do Chega só terá saído de Portugal em 1976 – ou seja, depois da Revolução de 25 de Abril de 1974 que pôs fim ao regime ditatorial do Estado Novo e, também, à Guerra Colonial Portuguesa.
Portanto, é falso que José Dias Fernandes tenha saído de Portugal para fugir “à guerra” e “à ditadura”, como disse Ventura na entrevista à SIC.
O Polígrafo tentou obter mais esclarecimentos junto do Chega, mas não obteve resposta até à data de publicação deste artigo.
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Avaliação do Polígrafo: