A dúvida surgiu na sequência de um vídeo publicado no YouTube a 31 de julho deste ano, que conta com milhares de visualizações. Na legenda, podia ler-se: “Vamos combatê-los. Wow, presidente BBM [Ferdinand ‘Bongbong’ Marcos Jr., chefe de Estado das Filipinas]. Um navio da União Europeia atacou a China em Ayungin”.
O conteúdo fazia referência a Second Thomas Shoal, localmente conhecido como Ayungin Shoal, nas Ilhas Spratly. Localiza-se no disputado Mar da China Meridional, para onde Pequim tem vindo a destacar embarcações militares numa altura de fortes tensões marítimas com as Filipinas.
Mas será que o que o vídeo alega tem qualquer fundo de verdade, acerca de uma investida levada a cabo por uma embarcação da União Europeia?
O tema foi primeiramente alvo de análise por parte da plataforma filipina de fact-checking “Rappler”, pertencente à International Fact-Checking Network (IFCN). E concluiu-se que o vídeo citado não apresentava qualquer prova que sustentasse a referida alegação.
Do conteúdo constam apenas excertos de uma declaração conjunta à imprensa com a participação do presidente das Filipinas e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no mesmo dia 31 de julho, no contexto de uma visita oficial sua ao país. Nas transcrições dos seus discursos, publicadas nas páginas oficiais das instituições que lideram (Comissão Europeia e Presidência das Filipinas), não se identifica qualquer referência ao alegado ataque perpetrado por uma embarcação europeia.
Além disso, não existem relatos na comunicação social que comprovem aquilo que se alega neste vídeo. Nem mesmo nas páginas verificadas, na rede social Facebook, da Delegação da União Europeia nas Filipinas, do Departamento de Defesa Nacional e da Marinha das Filipinas. O Comité Militar da União Europeia (CMUE), descrito na sua página oficial “online” como o “mais alto órgão militar criado no âmbito do Conselho” e que “dirige todas as atividades militares no contexto da UE”, também não emitiu qualquer comunicado sobre o alegado envolvimento direto de um dos seus navios com embarcações chinesas.´
Importa notar ainda que, no momento da partilha deste vídeo, o mais recente incidente a envolver barcos chineses (entre muitos outros) nas proximidades de Ayungin Shoal tinha ocorrido a 30 de junho. Segundo uma declaração da Guarda Costeira das Filipinas, citada pelo mesmo meio de comunicação social filipino, embarcações do país foram “constantemente seguidas, assediadas e obstruídas pelos navios da Guarda Costeira chinesa, de dimensões significativamente maiores” enquanto acompanhavam a Marinha das Filipinas numa missão de reabastecimento em Ayungin Shoal. Não existiu, no entanto, qualquer ataque aos navios chineses, nem qualquer menção acerca do envolvimento de tropas europeias no âmbito dessa ocorrência.
Assim, conclui-se que não existem evidências que comprovem a alegação de que um navio da União Europeia conduziu um ataque a embarcações chinesas no mar das Filipinas.
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