“O amigo do Passos Coelho é mesmo um tipo encantador”. A ironia deste “tweet”, partilhado esta quarta-feira, percebe-se assim que o vídeo nele partilhado começa. Paulo Otero, um dos 22 autores do livro “Identidade e Família”, apresentado no início da semana pelo ex-Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho, é o protagonista do momento. Mas não as suas opiniões não são de todo recentes: recuemos a dezembro de 2018.
Os membros da Tendência Esperança em Movimento (TEM), considerados os mais radicais do CDS-PP, estavam reunidos num jantar em Guimarães, onde Manuel Monteiro, ex-líder do partido popular, marcava presença. O constitucionalista Paulo Otero faria, ao contrário de Monteiro, um discurso relativamente curto (uma hora contra 12 minutos, respetivamente), que inicialmente se previa ser sobre a família e o trabalho, mas que rapidamente se tornou num momento de “confissões públicas”. A sua intervenção começa assim: “Eu não sou militante do CDS-PP. Não sou e nunca fui. Mas tenho um pecado: tenho votado várias vezes no CDS-PP. É que, dos partidos à esquerda, para mim é o que é menos à esquerda.”
Logo depois, declarações que demoraram a conseguir aplausos: “Sou de direita, sou conservador e não gosto do 25 de Abril.” No restaurante do Hotel Santa Luzia, só os mais conservadores se atreveram a ovacionar Otero. E mesmo esses esperaram uns segundos. O jurista continuou: “Poderia justificar porque é que sou de direita ou conservador, mas prefiro justificar porque é que não gosto do 25 de Abril.”
Porquê, então? “O primeiro argumento tem a ver com a frustração relativamente aos três objetivos do 25 de Abril: descolonizar, democratizar e desenvolver. (…) A segunda razão é que o 25 de Abril subverteu os valores que correspondem ao cerne da identidade nacional. O 25 de Abril procurou e procura destruir Deus. O 25 de Abril procura e tem alcançado o propósito de destruir a pátria, através da integração europeia, a alienação da soberania nacional. É Portugal deixar de ser Portugal. (…) Por fim, a esquerda descobriu que a melhor forma de implementar os seus valores é destruindo a família para um católico, para um cristão, o exemplo de Maria, de José e de Jesus. Uma família assente num casamento entre pessoas de um sexo diferente. Uma família que pressupõe que a adoção seja entre pessoas de sexo diferente. Que nega a ideologia de género. É também esta a razão pela qual eu não posso gostar do 25 de Abril”, justificou Otero.
O discurso aproximava-se dois oito minutos – as palmas sempre a um ritmo pouco natural – quando o professor de Direito concluiu: queria agora falar na “inversão dos valores” e na “esquerda” que terá “apropriado valores e bens que são da direita”. O primeiro: “As nacionalizações foram historicamente uma forma de confisco”; e o segundo: “A defesa do trabalho. Não há nada que integre mais o património judaico-cristão do que a defesa do trabalho.”
A um minuto de terminar, Otero citou o papa João Paulo II, mas “complementou” as suas palavras: “Não tenhais medo de ser de direita; não tenhais medo de ser conservadores; e não tenhais medo, porque não é pecado, de desejar o enterro do 25 de Abril.”
______________________________
Avaliação do Polígrafo: