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Não houve transferência de votos do PCP para o Chega no Alentejo?

Política
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Na "Grande Entrevista" da RTP, emitida a 30 de novembro, o novo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, afirmou que o crescimento eleitoral do Chega no Alentejo se deveu a mudanças de voto à direita e não à conquista de eleitores aos comunistas. Tem razão?

Sob o pano de fundo da progressiva erosão eleitoral do PCP, Paulo Raimundo foi convidado, na “Grande Entrevista” da RTP (emissão de 30 de novembro), a interpretar a queda dos comunistas e a subida do Chega em alguns concelhos do Alentejo, território onde o partido sempre apresentou os seus melhores resultados. O secretário-geral do PCP afirmou que se tratou “de uma arrumação da direita” e recusou uma transferência direta de eleitores do seu partido para o Chega: “Não penso que seja possível tirar essa conclusão”.

O Polígrafo analisou os resultados no Alentejo (por distrito) das últimas eleições realizadas (legislativas de 2022). Separou os votos em quatro blocos: PCP-PEV; BE; PS e PSD/Chega/IL/CDS (a “direita” a que fez referência Paulo Raimundo). Para perceber a dinâmica de transferência de votos, confrontou o desempenho destas forças políticas das legislativas de outubro de 2019 para as de janeiro de 2022, ou seja, no mesmo tipo de eleição.

Beja

Os partidos que o PCP classifica de direita cresceram de 18,06 para 29,03 (praticamente 11 pontos percentuais). Nesta subida estão incluídos PSD (+2,65), Chega (+8,23) e IL (+1,63) em contraponto ao CDS (-1,54). Atendendo a que também o PS cresceu neste distrito (3,02 pontos percentuais), é bastante provável que tenha havido transferência de votos do PCP (-4,38) e do BE (-5,36) para a direita e, nesta, para a força política que registou maior subida, o Chega, embora não seja possível determinar com precisão se o maior contingente de mudança de votos tenha ocorrido do PCP ou do BE para o partido de André Ventura.

Évora

Exatamente a mesma tendência de Beja, com ligeiras variações aritméticas.

Portalegre

Repete-se a tendência dos dois distritos mais a sul, com uma queda mais pequena do PCP (partindo de um resultado em 2019 mais baixo) e um reforço maior do Chega.

Conclui-se assim que, ao contrário do que afirmou Paulo Raimundo, o crescimento eleitoral do Chega no Alentejo não decorre “de uma arrumação à direita”, mas de transferências de votos oriundas dos dois partidos à esquerda do PS (PCP e BE), não sendo possível contabilizar o peso de cada um desses fluxos.

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Avaliação do Polígrafo:

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