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“Alunos de quatro anos poderão escolher género sem consentimento dos pais” na Escócia?

Sociedade
O que está em causa?
"Manipulação da mente humana", acusa-se numa publicação no Facebook, em referência a uma suposta notícia com o seguinte título: "Escócia: alunos de quatro anos poderão escolher género sem consentimento dos país." Verdadeira ou falsa?
© Shutterstock

“A isso chamamos manipulação da mente humana… Uma certa classe de parasitas querem a todo custo transformar e manipular crianças para que um dia mais tarde sejam suas presas, utilizando-as nos seus mais transloucados [Sic] prazeres. Isto é um verdadeiro crime a todos aqueles que ainda não sabem como se defender”, acusa-se numa publicação de 16 de agosto no Facebook.

Para o autor do texto, a “maldita esquerda e extrema-esquerda são os verdadeiros cúmplices desta aberração infantil que deixará marcas irreparáveis” nas crianças. E lança um apelo: “Juntos temos de combater esta praga, que não passa de um câncer [cancro] nas nossas vidas.”

Refere-se a uma suposta notícia que aparece em destaque numa imagem partilhada na mesma publicação. “Escócia: alunos de quatro anos poderão escolher género sem consentimento dos país”, destaca-se no título.

Será mesmo assim?

A imagem em causa tem origem num site intitulado como “Senso Incomum” que se descreve como um “portal de cultura e política com ideias contra a corrente, o óbvio e as explicações fáceis do jornalismo e da Academia”.

A suposta notícia dá conta de que a “Secretaria de Educação escocesa orienta que professores não avisem os pais nem questionem crianças que peçam para usar um novo nome ou um banheiro [casa-de-banho] diferente”, remetendo para um artigo do jornal britânico “Daily Mail“.

No site desse jornal, por sua vez, informa-se que a “Escócia vai permitir que os seus alunos mudem de género aos quatro anos sem o consentimento dos pais”, devendo os professores abster-se de questionar o pedido da criança.

Em causa está uma orientação divulgada pelo Governo escocês, em agosto de 2021, dirigida a professores e funcionários escolares, com a seguinte denominação: “Apoiar alunos transgénero nas escolas: orientação para escolas escocesas“.

O documento tem como objetivo aconselhar os funcionários para que possam ajudar da melhor forma jovens com questões de identidade de género nas escolas. Contudo, não são orientações estatutárias e destinam-se a ajudar autoridades educativas, instituições subvencionadas e escolas independentes a tomar decisões de forma eficaz, mas não podem ser prescritivas sobre o que é necessário em circunstâncias individuais”.

O aconselhamento inclui o combate ao bullying transfóbico, a ajuda a jovens que se estão a assumir como transexuais e como reagir face à utilização dos pronomes corretos e utilização de casas-de-banho e balneários.

Não quer isto dizer que crianças com quatro anos passem pela transição ou que os seus registos sejam alterados. O documento estabelece que os jovens “possam simplesmente escolher dizer, informalmente, que querem ser chamados por um nome diferente”, mas isso não significa que o nome e género sejam alterados no registo escolar. O que acontece é que passa a existir uma alínea designada “conhecido como“, onde o aluno poderá colocar outro nome diferente daquele que tem e que se mantém no seu registo inalterado.

Qualquer mudança oficial em jovens com menos de 16 anos implica o conhecimento e consentimento dos pais ou encarregados de educação.

Além disso, a recomendação insta a que se preceda a um julgamento profissional cuidadoso para “garantir que o apoio oferecido seja adequado à idade”.

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Avaliação do Polígrafo:

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