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Na África do Sul “388 portugueses” foram mortos enquanto se fazem manifestações “por um americano” em Portugal?

Internacional
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Em publicação nas redes sociais destaca-se a seguinte mensagem: "388 portugueses mortos por negros na África do Sul. Mas fazem-se manifestações por um americano. Há vidas que valem mais do que outras". Confirma-se a veracidade desta alegação?

Tanto na mensagem como na maior parte dos respetivos comentários aponta-se para o tempo presente: os “388 portugueses” terão sido recentemente “mortos por negros na África do Sul”, ao mesmo tempo (ou quase) que se fazem manifestações em Portugal na sequência do homicídio do afro-americano George Floyd, em Minneapolis, EUA, vítima de violência policial.

Esta alegação é verdadeira?

O número exato de “388 portugueses” remete para uma notícia do jornal “Público”, datada de 21 de maio de 2001, com o seguinte título: “388 portugueses mortos na África do Sul em quatro anos“.

Ou seja, trata-se de uma notícia de há 19 anos e o número de “388 portugueses mortos” foi registado durante um período de quatro anos, entre 1998 e 2001. São portanto acontecimentos com mais de duas décadas, literalmente do século passado.

“Noel Bernardo Nunes é 388ª vítima portuguesa da violência na África do Sul, nos últimos quatro anos. Natural da Madeira, com 65 anos de idade, 40 dos quais vividos naquele país, foi assassinado no sábado quando, cerca da meia-noite, encerrava o seu restaurante na cidade do Cabo. ‘Morreu instantaneamente com uma facada certeira na zona do coração’, lamenta José Quintal, presidente da Casa Social da Madeira, em Joanesburgo”, lê-se no artigo, sem qualquer referência à cor da pele de quem perpetrou tais crimes.

“Os festejos de Nossa Senhora de Fátima promovidos por esta colectividade, a maior e mais antigo dos 33 clubes portugueses existentes nesta área consular, foram interrompidos para cumprir um minuto de silêncio em memória de Noel Nunes que até 1995 viveu nesta última cidade. Inconformado com a morte do seu conterrâneo, Quintal reclama intervenção urgente das autoridades portuguesas junto do Governo da África do Sul. ‘Não nos podemos limitar a, resignados, irmos apenas contando o número de vítimas portuguesas’, sendo nove nos últimos 18 dias: dois na cidade do Cabo, um Lindley e os outros em Joanesburgo”, acrescenta-se.

“Um memorial aos portugueses mortos será inaugurado a 3 de junho, no Brentwood Park de Benoni, por iniciativa da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, dirigida pelo padre Carlos Gabriel, o principal impulsionador da ‘marcha contra o crime’, manifestação que dividiu a comunidade portuguesa e provocou a indignação do governo sul-africano que a conotou com grupos minoritários pró-apartheid. O monumento, a descerrar no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, incluirá a fotografia de todos os 388 portugueses mortos nos últimos quatro anos na África do Sul”, prossegue-se no texto. “Apesar da dureza das estatísticas, não confirmadas oficialmente, Quintal ressalva que a comunidade portuguesa não tem sido discriminada nem é vítima de qualquer sentimento racista. ‘A insegurança é generalizada’, reconhece”.

Em suma, é verdade que morreram 388 portugueses na África do Sul, vítimas de atos de violência, entre 1998 e 2001. Há cerca de duas décadas. Ao apontar para o tempo presente, a publicação sob análise induz em erro. Não obstante, na medida em que se registaram casos mais recentes de violência na África do Sul envolvendo a comunidade portuguesa, optamos pela classificação intermédia de “Impreciso”.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Parcialmente falso: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

 

 

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