Em 1992 dois gigantes do rock mais pesado juntaram-se para um conjunto de atuações em estádios, entre julho e outubro daquele ano – a “Guns N’ Roses/Metallica Tour”. Axl Rose, dos Guns, queria ter os Nirvana a abrir cada concerto desta digressão. Era fã assumido do trio grunge e até usou o logo da banda no video-clip de ‘Don’t Cry’”, de acordo com a revista “Rolling Stone”. Mas o sentimento não era mútuo. Kurt Cobain não perdia uma oportunidade de insultar os Guns N’ Roses. Em 1991, durante a fase de promoção do segundo disco da banda, “Nevermind”, fez questão de sublinhar que os Nirvana não são “uma banda tipo Guns N’ Roses que não têm absolutamente nada para dizer”, relata a “Rolling Stone”. A “Loudwire” destaca outra tirada de Cobain sobre os Guns: “São pessoas sem qualquer talento e fazem músicas da treta”.
Axl Rose não se deixou abalar pelos comentários humilhantes de Cobain e, apesar da animosidade, fez questão de convidar os Nirvana para acompanhar a mega-digressão que estava prestes a iniciar, lado a lado com outro colosso do rock musculado, os Metallica. Kurt Cobain manteve-se fiel aos comentários que vinha fazendo em relação aos Guns e respondeu, obviamente, “não”.
Mesmo assim, não desistiu, como se percebe pelo relato aa “Rolling Stone”, citando o baterista dos Nirvana, Dave Grohl: “O Axl telefonava insistentemente para o Kurt. Um dia, estávamos a caminhar, num aeroporto, e o Kurt diz, ‘Fuck! O Axel Rose não pára de me ligar!’”
Os gostos musicais de Cobain, a irritação visceral com os Guns N’ Roses – considerava-os a antítese dos Nirvana – e a teimosia em não querer colar-se, de nenhuma forma, a uma banda que detestava foram uma espécie de premonição e uma benção para o trio de Seattle que conseguiu, assim, distanciar-se de uma digressão menos bem conseguida… para dizer o mínimo.
Durante a passagem dos dois colossos do rock por Montreal, no Canadá, a 8 de agosto de 1992, “ambas as bandas apresentaram um alinhamento de canções mais reduzido que o habitual. Um grupo de elementos da audiência particularmente frustrado decidiu retaliar e iniciou um motim que terminou com saques, inúmeras janelas partidas, fogos, várias detenções, danos avaliados em cerca de meio milhão de dólares e com os Guns banidos, para sempre, do Olympic Stadium de Montreal”, relata a revista “Classic Rock”.
Num artigo que assinala os 28 anos desta digressão conjunta, a revista “Loudwire” recorda o contexto desta ambiciosa digressão: “Os Metallica tinham mais pirotecnia em palco do que a usada nas celebrações do 4 de Julho [dia da independência dos EUA]. E os Guns N’ Roses estavam encantados com o facto de serem necessárias duas horas para montar o seu palco, após a atuação dos Metallica. Mas naqueles dias, ambas as bandas achavam que nada podia correr mal. O ‘Black Album’, dos Metallica, continuava a escalar as tabelas de vendas (terá vendido mais de 16 milhões de cópias) e os Guns estavam a levar aos palcos os dois álbuns que tinham lançado em simultâneo, ‘Use Your Illusion I e II’ que venderam, com conjunto, 14 milhões de cópias. Mas no final da digressão, ambas as bandas acabariam por aprender uma dura lição: os excessos são a receita perfeita para o desastre”.
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