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Music-Check. Garfunkel inspirou-se em amigo cego para escrever “The Sound of Silence”? Não é verdade

Música
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
No Facebook, conta-se a suposta história que terá inspirado o clássico “The Sound of Silence”, de Art Garfunkel e Paul Simon. Diz-se que foi Garfunkel que escreveu a canção e que se inspirou num amigo, Sandy Greenberg - com quem andou na universidade - que ficou cego. Contudo, a ligação que está a ser feita entre o primeiro verso da música, “olá escuridão, minha velha amiga” (tradução livre do inglês), e o amigo de Garfunkel não é verídica. Foi Simon que compôs a canção e não teve nada a ver com Greenberg.

“’The Sound of Silence’, uma música inesquecível, agora com uma história até então não contada”, salienta-se numa publicação, partilhada no dia 22 de janeiro, que conta com 242 reações e mais de 200 partilhas. Por baixo da descrição, está um vídeo com mais de oito minutos que narra a alegada história da canção.

Através de legendas, conta-se a história da amizade entre Art Garfunkel e Sandy Greenberg. Os dois eram colegas de quarto na universidade e, a certa altura, Greenberg ficou cego. Garfunkel apelidou-se a si próprio de “escuridão” ao falar com o amigo, ajudou-o sempre e até o convenceu a não desistir dos estudos. Passado algum tempo, Greenberg – grato por todo apoio que o amigo lhe deu – emprestou dinheiro a Garfunkel para ajudar a lançar a sua carreira musical. Tudo isto aconteceu e foi comprovado por uma biografia publicada em 2020 pelo próprio Greenberg, que se tornou num autor, inventor, filantropo, e presidente do conselho de administração do Instituto Johns Hopkins Wilmer Eye.

No entanto, há dois factos importantes que não foram considerados na publicação.

Primeiro, a canção “The Sound of Silence” foi escrita por Paul Simon, e não por Garfunkel. E segundo, a frase “olá escuridão, minha velha amiga” não tem nada a ver com Sandy Greenberg.

The Sound of Silence” foi escrita por Paul Simon, por volta de 1963, e lançada no álbum de estreia da banda “Wednesday Morning, 3 A.M.”. De acordo com Simon, o verso de abertura da canção simbolizava a sua prática infantil de tocar guitarra na casa de banho, no escuro.

Numa entrevista que o membro da dupla deu à revista “Playboy”, em 1984, o músico explicou: “Costumava explodir na casa de banho, porque a casa de banho tinha azulejos, por isso era como uma sala de eco. Eu ligava a torneira para que a água corresse – gosto desse som, acalmava-me – e brincava. No escuro. ‘Olá escuridão minha velha amiga / vim para falar contigo outra vez’.”

Garfunkel também comentou a canção. Na contracapa do álbum “Wednesday Morning, 3 A.M.”, a dupla publicou uma carta que Garfunkel tinha escrito a Simon e onde se lê: “‘The Sound of Silence’ é uma obra importante […] O seu tema é a incapacidade do homem para se comunicar com o homem. O autor vê a extensão da comunicação como sendo apenas no seu nível mais superficial e ‘comercial’ (do qual o ‘sinal de néon’ é representativo). Não existe uma compreensão séria porque não existe uma comunicação séria – ‘pessoas a falar sem falar – ouvir sem ouvir’. Ninguém se atreve a correr o risco de estender a mão (‘pegue nos meus braços para que eu o possa alcançar’) para perturbar o som do silêncio.

Em suma, embora o post fosse uma visão geral correta da amizade de Garfunkel e Greenberg, não há quaisquer provas que a música “The Sound of Silence” fosse inspirada nessa mesma relação. Além disso, a música foi escrita por Paul Simon.

 

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