No discurso de tomada de posse, esta terça-feira no Palácio da Ajuda, Luís Montenegro pediu ao Partido Socialista (PS) e restantes partidos da oposição que não funcionem como uma força de “bloqueio”, uma vez que o país “não está de cofres cheios”. Depois de os socialistas avançarem que a aprovação do Orçamento do Estado não está garantida, o Primeiro-Ministro lembrou: “Não rejeitar o programa de Governo não significa um cheque em branco [ao Executivo], mas também não pode significar um cheque sem cobertura.”
O que é certo é que o próprio Montenegro já serviu de bloqueio por várias vezes nos últimos nove anos: em alguns deles, mesmo antes de conhecer os documentos apresentados pelos Executivos de António Costa, o agora PM pedia aos líderes que fossem claros, enquanto reforçava que o voto contra não podia depender do Orçamento.
Entre 2016 e 2024, o PSD nunca votou a favor de um Orçamento socialista. Mas em 2018 e em 2019, sobre o documento para os anos seguintes (2019 e 2020), Luís Montenegro nem precisou de provas. O ex-líder da bancada parlamentar dos sociais-democratas até desafiou Rui Rio, líder do partido, a deixar de lado a “conversa fiada e de politiquês”. Rio não cumpriu, como Montenegro quer que Pedro Nuno Santos faça agora.
A 11 de julho de 2018, a traçar o caminho contra Rui Rio dentro do PSD, Montenegro desafiava-o a assumir antecipadamente o voto contra o OE para 2019. O documento estava longe de ser conhecido.
“Era escusado ao PSD que houvesse uma certa nuance ou noção de hesitação (…). A verdade é que não foi dito preto no branco aquilo que será a posição do PSD. O argumento de o documento não ser conhecido é relativamente menor do ponto de vista da análise política. Todas as intervenções quer do Primeiro-Ministro quer do ministro das Finanças apontam para o seguimento da linha que vem detrás e portanto não haverá novidade”, afirmou Luís Montenegro ao programa “Almoços Grátis” da TSF. À pergunta “Rio devia dizer já que o PSD vai votar contra”, Montenegro foi claro: “Parece-me natural.”
No ano seguinte, nada mudou. A 28 de dezembro de 2019, já candidato à liderança do PSD, Montenegro voltava a desafiar Rui Rio. Mas, já com os objetivos delineados, era agora mais claro: “Eu sou daqueles que não precisava de ver o documento e hoje acho que toda a gente reconhece que eu tinha razão. Não é uma questão de desrespeitar, não é uma questão de radicalismo, não é uma questão de irresponsabilidade. Isso é tudo uma conversa fiada, isso é tudo conversa de politiquês.”
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