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Montenegro pede a oposição que não seja força de “bloqueio” mas esteve contra nove Orçamentos do PS, alguns dos quais “sem conhecer”?

Política
O que está em causa?
O Primeiro-Ministro (PM) já começou a apelar à consciencialização dos partidos para que estes não funcionem como um bloqueio ao seu Governo. Mas será que Luís Montenegro já decidiu votos contra os Orçamentos do Estado socialistas mesmo sem os conhecer?
© Miguel A. Lopes/Lusa

No discurso de tomada de posse, esta terça-feira no Palácio da Ajuda, Luís Montenegro pediu ao Partido Socialista (PS) e restantes partidos da oposição que não funcionem como uma força de “bloqueio”, uma vez que o país “não está de cofres cheios”. Depois de os socialistas avançarem que a aprovação do Orçamento do Estado não está garantida, o Primeiro-Ministro lembrou: “Não rejeitar o programa de Governo não significa um cheque em branco [ao Executivo], mas também não pode significar um cheque sem cobertura.”

O que é certo é que o próprio Montenegro já serviu de bloqueio por várias vezes nos últimos nove anos: em alguns deles, mesmo antes de conhecer os documentos apresentados pelos Executivos de António Costa, o agora PM pedia aos líderes que fossem claros, enquanto reforçava que o voto contra não  podia depender do Orçamento. 

Entre 2016 e 2024, o PSD nunca votou a favor de um Orçamento socialista. Mas em 2018 e em 2019, sobre o documento para os anos seguintes (2019 e 2020), Luís Montenegro nem precisou de provas. O ex-líder da bancada parlamentar dos sociais-democratas até desafiou Rui Rio, líder do partido, a deixar de lado a “conversa fiada e de politiquês”. Rio não cumpriu, como Montenegro quer que Pedro Nuno Santos faça agora.

A 11 de julho de 2018, a traçar o caminho contra Rui Rio dentro do PSD, Montenegro desafiava-o a assumir antecipadamente o voto contra o OE para 2019. O documento estava longe de ser conhecido.

“Era escusado ao PSD que houvesse uma certa nuance ou noção de hesitação (…). A verdade é que não foi dito preto no branco aquilo que será a posição do PSD. O argumento de o documento não ser conhecido é relativamente menor do ponto de vista da análise política. Todas as intervenções quer do Primeiro-Ministro quer do ministro das Finanças apontam para o seguimento da linha que vem detrás e portanto não haverá novidade”, afirmou Luís Montenegro ao programa “Almoços Grátis” da TSF. À pergunta “Rio devia dizer já que o PSD vai votar contra”, Montenegro foi claro: “Parece-me natural.”

No ano seguinte, nada mudou. A 28 de dezembro de 2019, já candidato à liderança do PSD, Montenegro voltava a desafiar Rui Rio. Mas, já com os objetivos delineados, era agora mais claro: “Eu sou daqueles que não precisava de ver o documento e hoje acho que toda a gente reconhece que eu tinha razão. Não é uma questão de desrespeitar, não é uma questão de radicalismo, não é uma questão de irresponsabilidade. Isso é tudo uma conversa fiada, isso é tudo conversa de politiquês.”

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