“Um elemento que, durante muitos anos, foi alvo da luta política mais populista, mais demagógica contra o PSD: a emigração. Lembram-se que nos tempos em que nós estivemos a arrumar a casa que o PS desarrumou, fomos acusados de permitir que muitas pessoas fossem ao encontro de uma oportunidade – que não tinham cá – no estrangeiro”, afirmou Luís Montenegro, ao discursar na segunda-feira à noite na “Festa do Pontal”, em Quarteira, Algarve, evento que marcou a rentrée política do partido.
“Pois bem, passaram oito anos. Em 2021 emigraram cerca de 60 mil pessoas. Metade destas pessoas – mais coisa, menos coisa – são pessoas com o Ensino Superior, portanto recursos humanos qualificados. E 42% são recursos humanos jovens que têm entre 20 e 29 anos”, sublinhou o líder do PSD.
Estas alegações sobre a emigração têm fundamento?
Os números indicados estão patentes no “Relatório da Emigração 2021” (pode consultar aqui), uma iniciativa da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. Baseia-se nos dados recolhidos pelo Observatório da Emigração, um centro de investigação do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, junto das instituições responsáveis pelas estatísticas da imigração.
“Estima-se que terão emigrado cerca de 60 mil portugueses em 2021. Mais 15 mil do que em 2020 mas ainda menos 20 mil do que em 2019″, informa-se no relatório.
“Entre 2019 e 2020 a emigração teve uma quebra da ordem dos 44% em consequência dos efeitos conjugados da crise pandémica e do Brexit. As políticas de confinamento colocaram obstáculos à mobilidade e produziram uma crise económica global de grandes proporções que explicam a travagem abrupta das migrações internacionais. Porém, uma travagem tão radical como a observada foi de curta duração. Em 2021 as migrações iniciaram uma recuperaçao assinalável, tendo crescido, em Portugal, cerca de 33% em relação a 2020. Não regressaram ainda aos níveis pré-pandemia mas encontram-se, de novo, numa trajetória de crescimento. É ainda cedo para se saber se esse crescimento será sustentável ou se a emigração estabilizará num patamar inferior ao que se desenhava antes da pandemia”, detalha-se.
“Em princípio a última hipótese é mais verosímil dados os efeitos prolongados do Brexit. Ao contrário do que aconteceu com a pandemia, os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia prolongam-se no tempo, tornando mais difícil as entradas naquele que era o principal destino da emigração portuguesa – pelo menos das entradas de migrantes menos qualificados. Esta é a primeira razão por que a recuperação da emigração em 2021 ficou aquém dos números de 2019“, sublinha-se. “Deverão ter contribuído ainda para este facto a recuperação económica em Portugal e o prolongamento para os primeiros meses de 2021 de alguns dos efeitos da pandemia”.
No que concerne à idade dos emigrantes, segundo o mesmo relatório, “analisados os dados sobre a estrutura etária dos fluxos emigratórios portugueses, conclui-se, sem surpresa, que estamos perante um movimento constituído, no essencial, por pessoas em idade ativa jovem. As diferenças entre fluxos por países de destino são pouco expressivas, variando entre os 95% de emigrantes com idades entre os 15 e os 64 anos para o Reino Unido, e os 82%, no caso da emigração para o Luxemburgo. O carácter recente da nova emigração portuguesa poderá explicar a pouca presença de movimentos de reagrupamento familiar que estes dados parecem sugerir”.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) compilados na Pordata apontam no mesmo sentido: do total de 25.079 emigrantes permanentes (pessoas que saíram do país para viver no estrangeiro por mais de um ano) registados em 2021, cerca de 42% (total de 10.535) tinha entre 20 e 29 anos de idade, tal como alegou Montenegro (embora não especificando que se referia a emigrantes permanentes, sem incluir os temporários).
De qualquer modo, do total de 40.904 emigrantes temporários (pessoas que saíram do país para viver no estrangeiro por menos de um ano) registados em 2021, cerca de 35,8% (total de 14.643) tinha entre 20 e 29 anos de idade. Pelo que a diferença não é significativa.
Saldo migratório positivo desde 2017
Importa contudo ressalvar que, de acordo com os últimos dados do INE, o saldo migratório tem sido positivo desde 2017, após um período de seis anos consecutivos (2011-2016, indo além do período de intervenção da Troika) com resultados negativos.
O saldo migratório consiste na diferença entre os números de emigrantes e imigrantes por cada ano. Em 2021 e 2020 (os dois últimos anos com dados preliminares já apurados) registaram-se saldos migratórios positivos de +25,6 mil e +114,6 mil pessoas, respetivamente.
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Avaliação do Polígrafo: