O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Moedas “retirou” quatro milhões de euros da Carris e vai investir o mesmo montante na Web Summit?

Política
O que está em causa?
Na rede social X, o deputado municipal do BE Ricardo Moreira denuncia uma alteração no orçamento da CML que implica um corte de quatro milhões de euros no plano anual da Carris ao passo que, no caso da Web Summit, surge esse mesmo valor como "transferência de verba". Autarquia rejeita "qualquer redução" e justifica tratar-se de uma substituição "por financiamento europeu do POSEUR".
© Hugo Delgado/Lusa

“Isto é inacreditável. Hoje, Moedas retirou 4 milhões de euros da Carris e pôs 4 milhões de euros na Web Summit. Quando o autocarro não vier ou estiver atrasado, já sabes que foram os unicórnios usaram esse dinheiro”, indica Ricardo Moreira num tweet publicado no dia 25 de outubro.

A acompanhar a alegação, uma imagem em que se vê um recorte daquilo que parece ser a 24.ª alteração ao orçamento e plano de atividades da Câmara Municipal de Lisboa (CML), votado e aprovado em reunião extraordinária nesse mesmo dia, pelas 10h30, como se verifica na ordem de trabalhos inscrita no Edital 245/2024.

Mas confirma-se este valor retirado da Carris e o mesmo montante na Web Summit?

Apesar de no site da autarquia os documentos mais recentes dizerem respeito à aprovação das 19.ª e 20.ª Alterações Orçamentais, aprovadas em 16 e 20 de setembro, o Polígrafo teve acesso ao documento da 24.ª alteração ao orçamento.

Ao consultá-lo confirma-se que no plano anual da Carris foram retirados quatro milhões de euros, que depois se verificam no plano anual da Web Summit.

Segundo um documento assinado pela vereadora Joana Oliveira Costa no dia 25 de outubro, a proposta visava “aprovar o financiamento pelo Fundo Desenvolvimento Turístico de Lisbo, dos projetos/atividades objeto de parecer favorável pelo Comité de Investimentos” e “aprovar uma primeira transferência de verba para a Associação de Turismo de Lisboa, no montante de quatro milhões de euros, para execução do projeto referido no ponto M”.

Esse “ponto M” são as “obras de expansão do recinto” que ainda “não se encontram implementadas”. Para “assegurar a edição [da Web Summit]” deste ano, “é necessário disponibilizar os espaços necessários à realização do evento”, indica-se no documento.

Ao Polígrafo, a autarquia sublinha que “não há qualquer redução” e que “o valor previsto no orçamento da CML para a compra de autocarros da frota da Carris foi substituído por financiamento europeu do POSEUR”.

Sendo que, na alteração orçamental aprovada, está “em causa um acerto de compensação pelo valor recebido” e que “o valor diz respeito a investimento em frota e nada tem a ver com operação da Carris, horários, pessoal”, defende a CML.

Já Ricardo Moreira afirma que “essa informação é contrária à informação do Diretor Municipal de Finanças que informou que o valor retirado à Carris era porque estavam por apurar as indemnizações compensatórias por causa do contrato de serviço” e que “não está indicado nenhum valor de substituição à Carris”.

Relativamente à Web Summit, a autarquia diz tratar-se “do valor a pagar neste ano de 2024 e que está previsto no acordo celebrado em 2018”, rejeitando uma “alteração ao valor a pagar” ou  “verba adicional” de quatro milhões de euros, como questionou o Polígrafo.

Por sua vez, o deputado municipal aponta que “sim, já estava previsto em orçamento, mas não havia dinheiro na rubrica” e a CML “precisava para poder fazer o pagamento”.

“A rubrica da Web Summit não tinha verba para ser aprovada, só depois da alteração orçamental da Carris é que foram emitidos os documentos financeiros”, argumenta Ricardo Moreira acusando a autarquia de “má gestão orçamental”.

O Polígrafo solicitou ainda à CML documentos que comprovem essa substituição de verba por financiamento europeu, no entanto, não obteve qualquer resposta até esta segunda-feira.

______________________________

Avaliação do Polígrafo:

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Em destaque