“Nós não teremos novos professores se não forem formados novos professores. Durante muitos anos, todos os anos nesta altura, as notícias eram: ‘Não sei quantos professores sem colocação, não sei quantos mil professores desempregados'”, começou por afirmar o ministro da Educação, João Costa, numa entrevista à RTP (edição de 12 de setembro do “Telejornal”), ao ser confrontado com o problema da falta de professores nas escolas.
“Houve até quem dissesse há muito pouco tempo, ainda nas últimas eleições legislativas, lembro-me de o doutor Rui Rio, presidente do PSD à data, dizer: ‘Há professores a mais em Portugal.’ E nós começámos desde o primeiro dia a dizer: ‘Há falta de professores'”, assegurou o ministro da Educação.
É verdade que, “nas últimas eleições legislativas”, o então líder do PSD, Rui Rio, disse que “há professores a mais em Portugal”?
No discurso de encerramento do 39.º Congresso Nacional do PSD, a 19 de dezembro de 2021 (ou seja, na antecâmara das eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022), Rio declarou que “o Governo do PS e as esquerdas unidas desautorizaram os professores, desinvestiram na escola pública, desprezaram o ensino profissional, ignoraram a educação na infância. Deixaram desprotegidos os setores mais desprotegidos da população para os quais não há alternativa para a escola pública”.
“Quiseram desenvolver competências dos alunos, mas desvalorizaram o conhecimento. Quiseram reduzir o número de alunos por turma, mas fizeram-no de forma tão atabalhoada que agora se debatem com a falta de professores em alguns grupos de docência“, acusou, para logo depois garantir que “o legado deixado no setor da Educação é pesado, mas o PSD aqui está para transmitir um sinal de esperança e de ambição a alunos, pais e professores”.
Ora, nessa altura, o líder do PSD foi criticado precisamente por apontar para a falta de professores, em aparente contraste com o que dissera em 2019, numa entrevista à rádio “Observador”. Rio defendeu então que o Governo “pode não ter que reduzir, mas pode e deve redimensionar e re-arrumar” a Administração Pública, na medida em que “há serviços com falta de funcionários e serviços com funcionários a mais”.
“No fim, pode até nem reduzir funcionários públicos e aumentar um pouco, mas o que aqui é mais importante é a arrumação dos funcionários públicos. Os professores, por exemplo: há professores a mais, infelizmente, o que significa que temos um problema de natalidade, há menos crianças. Tudo isto tem que ser equilibrado”, disse Rio, associando a gestão do número de professores ao processo de evolução da natalidade.
Mas estas declarações foram proferidas em 2019. Nas últimas eleições legislativas, em 2022, Rio já tinha recalibrado o discurso para a escassez de professores.
Aliás, essa mudança de perspetiva já ocorrera em dezembro de 2020, por exemplo, quando Rio acusou o ministro da Educação de não resolver o problema da falta de professores nas escolas, avisando que a situação “é dramática” e “insustentável” a curto prazo.
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