“Bastou um lugar na lista de deputados para o argumento ‘elevado número de alunos impede a boa formação’ cair por terra. Era interessante perceber a posição da Ordem dos Médicos depois do anúncio de mais dois cursos de Medicina”, destaca-se num tweet de 15 de agosto, publicado na sequência do anúncio pelo Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, de que vão ser criados novos cursos de Medicina em Portugal.
Em causa está a posição de Miguel Guimarães, atual deputado do PSD. Quando exercia o cargo de bastonário da Ordem dos Médicos, Guimarães era contra o aumento do número de vagas nos cursos de Medicina, por considerar que “o elevado número de alunos” impediria “a boa formação”. No tweet exibe-se aliás uma notícia do jornal “Sol”, datada de 17 de junho de 2020, com essa posição de Guimarães em destaque.
De facto, uma das medidas anunciadas pelo Primeiro-Ministro ao discursar na Festa do Pontal, a 14 de agosto, foi a criação de dois novos cursos de Medicina nas universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro e de Évora, aumentando assim o número de vagas – ainda que esse número não tenha sido determinado).
Esse anúncio motivou uma reação do atual bastonário da Ordem dos Médicos (sucessor de Guimarães), Carlos Cortes, logo no dia seguinte. “Está mais do que provado que Portugal tem os médicos suficientes, só que não estão no Serviço Nacional de Saúde. Em vez de desviarmos as atenções com medidas de algum populismo, mas irrealistas para este momento, devemos concentrar-nos no Serviço Nacional de Saúde e na sua capacidade para atrair recursos humanos agora”, declarou à Agência Lusa.
Posição que coincide com a de Guimarães em 2020, cujas declarações na altura estão registadas na notícia do jornal “Sol” e também na página da Ordem dos Médicos.
Foi à margem de uma visita ao Hospital de Braga, no dia 17 de junho de 2020, durante a pandemia de Covid-19, que Guimarães considerou que o aumento das vagas nas faculdades de Medicina – que tinha sido autorizado para o ano letivo seguinte – iria resultar numa diminuição da qualidade da formação.
“As nossas escolas médicas já ultrapassaram o limite de estudantes que podem formar”, afirmou. Nessa lógica, o então bastonário da Ordem dos Médicos garantiu que as capacidades “em termos de ensino teórico e clínico levam a que seja muito difícil acomodar mais 15% de estudantes” e isso “seguramente” levaria “a que exista diminuição da qualidade na formação dos médicos”.
O Polígrafo contactou Guimarães no sentido de perceber se, volvidos quatro anos e sendo agora deputado do PSD, mantém a sua opinião sobre esta matéria. No entanto, não obteve resposta até à publicação deste artigo.
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Avaliação do Polígrafo: