Ontem à noite, na SIC Notícias, Miguel Guimarães, ex-bastonário da Ordem dos Médicos e atual deputado do PSD, dividiu painel na SIC Notícias com Rui Cristina (Chega), Joana Cordeiro (Iniciativa Liberal) e João Paulo Correia (Partido Socialista) para discutir soluções para a Saúde em Portugal. Os últimos dias não têm sido fáceis para o Governo da AD, mas Miguel Guimarães culpa inteiramente os socialistas pela falta de capital humano.
“O grande problema do capital humano é da total responsabilidade do Partido Socialista. Nunca mais me esqueço de quando o dr. António Costa veio chamar cobardes aos médicos, numa entrevista que deu ao ‘Expresso’, e a dra. Marta Temido veio chamar ‘assassinos’ aos enfermeiros. Isto é que afastou muitas pessoas do SNS”, afirmou o antigo bastonário.
A consideração que Miguel Guimarães faz sobre o afastamento de capital humano do SNS é inconfirmável: trata-se de uma suspeita que, embora rebuscada, não pode sequer ser desmentida, uma vez que não há dados sobre o que, nos últimos anos, levou os médicos a fugir para o privado.
O que pode, sim, confirmar-se, são as declarações que Guimarães atribui ao ex-Primeiro-Ministro e à ex-ministra da Saúde: e se a primeira é fiável, ainda que a declaração tenha sido partilhada de forma ilegal, a segunda é imprecisa. Marta Temido nunca chamou “assassinos” aos enfermeiros, mas sim “criminosos”. E como figura de retórica que obrigou a um pedido de desculpas.
Costa, uma entrevista ao Expresso e um vídeo que nunca devia ter sido publicado
Em agosto de 2020, um vídeo do então Primeiro-Ministro à conversa com um jornalista do “Expresso” chegou às mãos erradas. O jornal enviou-o, por erro, a dois orgãos de comunicação, que não o transmitiram. No registo de sete segundos, António Costa chama “cobardes” aos médicos envolvidos no caso do surto da Covid-19 num lar de Reguengos de Monsaraz. Segundo o então presidente da ARS Alentejo, os profissionais recusaram-se a prestar cuidados de saúde na instituição.
“É que o presidente da ARS mandou para lá os médicos fazerem o que lhes competia. E os gajos, cobardes, não fizeram”, ouve-se Costa dizer ao jornalista do semanário.
À data, o “Expresso” prestou vários esclarecimentos, nomeadamente para explicar que o vídeo que foi partilhado nas redes sociais “não é o original”. “Em concreto, houve edição de som, aumentando-o de forma a que fosse perfeitamente audível; e foi gravado de um monitor, o que facilmente pode ser comprovado na sua visualização, por comparação com a qualidade de imagem do vídeo original”, explicou o jornal.
Em suma, Costa chamou, sim, “cobardes” a um conjunto específico de médicos. Mais tarde, numa audiência longa pedida por Miguel Guimarães, ainda bastonário, faria o pedido de desculpas possível. Sem recorrer a qualquer tipo de palavra sequer parecida com “desculpa”, Costa acenou com a bandeira branca: “Espero que todos os mal-entendidos estejam esclarecidos. Acho que testemunhou [o bastonário] de forma inequívoca o meu apreço e consideração pelos médicos portugueses e pela generalidade dos profissionais de saúde”. A resposta foi positiva. Segundo Guimarães, para quem entretanto a paz já cessou, o Primeiro-Ministro acabara de lhe transmitir “de forma clara, o respeito e confiança pelos médicos portugueses”.
Temido: “Criminoso”, a figura retórica que obrigou a um pedido de desculpas aos enfermeiros
Dois meses e um dia após ter tomado posse como ministra da Saúde, Marta Temido protagonizou a primeira grande polémica do seu mandato. Em tempo de greve dos enfermeiros e de negociações com três sindicatos e rutura com outros dois, a sucessora de Adalberto Campos Fernandes entendeu fazer uma distinção entre os dois grupos.
Assim, em entrevista à TSF e “Diário de Notícias”, no dia 16 de dezembro de 2018, declarou: “Nem sequer isso [negociar com os sindicatos em greve] seria correto para com as estruturas que decidiram dar-nos o benefício de continuar à mesa e a negociar connosco, portanto isso estaria a privilegiar, digo eu, o criminoso, o infrator.”
As declarações da ministra foram tomadas à letra e nas manchetes surgiu “ministra chama criminosos aos enfermeiros”. O incómodo da situação levou mesmo a ministra a telefonar no dia seguinte à bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, pedindo desculpas e sublinhando nunca ter querido chamar criminosos àqueles profissionais. O telefonema foi divulgado pela Ordem, em comunicado.
Agora, Miguel Guimarães incorre numa imprecisão quando diz que Temido chamou “assassinos” aos enfermeiros. As palavras utilizadas pela ministra foram “criminoso” e “infrator”.
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