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Meses depois do fim das listas de espera nas cirurgias já há 1250 doentes oncológicos com tempo de resposta ultrapassado?

Política
O que está em causa?
A referência de Luís Montenegro ao facto de o Governo ter acabado com as lista de espera para cirurgias oncológicas carece de contexto. A medida, que já foi classificada como temporária, confronta-se agora com novas listas de espera: são hoje 1250 pessoas nesta situação.
© José Sena Goulão/Lusa

No debate com o Primeiro-Ministro, na última quarta-feira, Pedro Nuno Santos acusou Luís Montenegro de enganar os portugueses com os números sobre as cirurgias a doentes oncológicos. Luís Montenegro manteve a sua palavra, alterando apenas ligeiramente a afirmação que fez há dois meses, no primeiro dia do 42.º Congresso Nacional do PSD, em Braga.

Agora, o líder dos social-democratas diz que “essa afirmação tem que ser contextualizada no seguinte: todos os doentes oncológicos que tinham excedido o tempo máximo de resposta garantida foram intervencionados ou agendada a sua cirurgia. Rigorosamente todos. É essa a informação de que disponho”.

O plano OncoStop, uma das medidas do Plano de Emergência da Saúde, foi lançado em maio para resolver os atrasos nas cirurgias oncológicas. É um facto que o número de pacientes fora do Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG) caiu significativamente​, já que entre 1 de maio e 30 de agosto foram feitas 25.800 cirurgias a doentes com cancro, o que representa um crescimento de 15,8% comparativamente a 2023.

Segundo o director executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Gandra d’Almeida, no final de agosto numa entrevista à SIC Notícias, o programa de regularização de lista de espera para cirurgia oncológica estava já concluído e não havia, a essa data, doentes oncológicos a aguardar acima do prazo considerado clinicamente aceitável. “Neste momento não temos”, garantiu.

Problema: há meses que a medida do Governo é apelidada como temporária e já em setembro a presidente da Federação Nacional dos Médicos, Joana Bordalo e Sá, numa entrevista ao semanário “Expresso” classificou o “OncoStop” como “uma medida de propaganda“. Segundo Bordalo e Sá, “dos mais de 9 mil doentes em espera, 2300 ultrapassavam, efetivamente, o tempo máximo de resposta. Foram realizadas cirurgias, mas a verdade é que hoje a lista já aumentou 0,3%. Os doentes oncológicos têm cirurgia agendada e entre agendar e realizar vai uma grande distância”.

Os números atuais são ainda menos positivos. Segundo os dados enviados pelo SNS ao Polígrafo, “até ao final de novembro de 2024 foram realizadas no SNS 71.510 cirurgias oncológicas, mais 11% das cirurgias realizadas no mesmo período do ano de 2023 (63.486)”.

Nos primeiros 11 meses de 2024 realizaram-se mais 3.342 cirurgias oncológicas do que o total de cirurgias oncológicas realizadas em 2023, mas isso não significa que não haja doentes à espera. Afinal, em novembro ainda havia 8.881 inscritos a aguardar cirurgia oncológica (8.921 em novembro de 2023), 1.082 dos quais com TMRG ultrapassado e 168 na mesma situação mas sem data de agendamento. Ou seja, um total de 1250 doentes.

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Avaliação do Polígrafo:

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