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Médico no início da carreira pode ganhar mais do que um técnico superior com mais de 20 anos de serviço?

Sociedade
O que está em causa?
Sim, um médico interno em início de carreira pode mesmo receber, ao final do mês, mais do que um técnico superior com 20 anos de serviço. O contrário também pode acontecer, mas é menos provável.
© Shutterstock

Técnica superior há mais de 20 anos e com um salário que ultrapassa “pouco” os dois mil euros, uma leitora do Polígrafo questiona se um médico em início de carreira pode auferir mais do que este valor. A resposta é um “verdadeiro, mas”, já que, sendo raro, o contrário também pode acontecer.

Primeiro, o salário de um médico interno: segundo a tabela para 2024 do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), no internato médico um trabalhador pode ganhar de 1.754 euros a 2.349 euros brutos/mês. O salário mais pequeno é atribuído aos médicos internos em regime de formação geral, que corresponde a um período de 12 meses. Depois disso, dá-se início à formação especializada, que pode durar de três a cinco anos: neste período, os médicos já ganham entre 2.078 euros e 2.349 euros brutos.

Quanto ao técnico superior: apesar de ser arriscado posicionar um trabalhador com mais de 20 anos de serviço numa posição da tabela remuneratória única, a verdade é que, em julho de 2023, durante as alterações ao estatuto destes técnicos, a então ministra Mariana Vieira da Silva divulgou alguns números que ajudam ao cálculo.

Neste momento, segundo os dados da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), existem 81.656 técnicos superiores na administração pública. Destes, e tomando por bons os dados de 2023, menos de 1% estavam no último escalão, ou seja, a auferir, à data, 3.561 euros (um montante que entretanto subiu para os 3.667 euros). De acordo com a informação apresentada pela ex-governante ao Parlamento, quase 90% dos técnicos estavam no ano passado na primeira metade da carreira e, nos quatro últimos escalões, não chegavam a 3%.

Tendo por base o universo de 65 mil técnicos superiores afetados pela medida do Governo (de diminuir de 14 para 11 as posições remuneratórias e de tornar mais fácil a chegada ao topo da carreira), apenas 5,3% destes estavam nas cinco posições do topo da carreira, ou seja, acima dos 2.917 euros brutos por mês. Além disso, metade dos 65 mil técnicos estava nas primeiras três posições, até aos 1.544 euros de remuneração base por mês.

Isto significa que um trabalhador com 20 anos de carreira ou mais deve inserir-se, agora, na terceira ou quarta posição remuneratória, auferindo ou 1.915 euros ou 2.132 euros por mês. Mais: estes trabalhadores viram o seu direito a uma progressão nas carreiras ser congelado entre 2005 e 2007 e entre 2011 e 2017, o que significa que não é provável que tenham subido acima da quarta posição remuneratória.

Assim, é essencialmente verdade que um médico interno pode ganhar mais do que um técnico superior com 20 ou mais anos de carreira. Ainda assim, é importante ressalvar que o contrário também pode acontecer (se o médico estiver no período de formação geral, nomeadamente).

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Avaliação do Polígrafo:

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