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Médico alemão escreveu “carta de suicídio” denunciando “genocídio” e “crime” das vacinas Covid-19?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Thomas Jendges, com 55 anos de idade, diretor de um hospital em Chemnitz, Alemanha, faleceu no dia 2 de novembro. Os indícios recolhidos apontam para um provável suicídio. Entretanto começou a ser difundido nas redes sociais o rumor de que terá escrito uma "carta de suicídio" com a seguinte denúncia: "Não posso mais conviver com as mentiras aos cidadãos e aos pacientes de que as picadas [vacinas] são inofensivas, é um genocídio!"

“Em Chemnitz, na Alemanha, em 2 de novembro, o chefe clínico do hospital, Dr. Thomas Jendges, se suicidou. Trecho de sua ‘carta de suicídio’ encontrada diz: ‘Não posso mais conviver com as mentiras aos cidadãos e aos pacientes de que as picadas [vacinas] são inofensivas, é um genocídio“, destaca-se num dos posts identificados pelo Polígrafo, remetendo para um artigo jornal “Bild” em língua alemã.

Também encontramos posts quase similares em inglês, francês e outras línguas, com referências mais diretas às vacinas contra a Covid-19 (na versão em língua portuguesa opta-se pelo termo “picadas”, talvez uma forma de escapar aos filtros das redes sociais).

Esta história tem algum fundamento?

De facto, o médico alemão Thomas Jendges, com 55 anos de idade, diretor de um hospital em Chemnitz, Alemanha, faleceu no dia 2 de novembro. Os indícios recolhidos apontam para um provável suicídio.

É o que noticia, precisamente, o jornal “Bild”, em artigo publicado no dia 3 de novembro. Mas não faz qualquer referência a uma “carta de suicídio”, nem a uma suposta ligação do ocorrido com a vacinação contra a Covid-19.

Nas versões em língua francesa apresentam-se mais transcrições da “carta de suicídio”, na qual Jendges terá classificado as vacinas contra a Covid-19 como uma forma de “genocídio” e “crime contra a Humanidade“. O médico alemão terá justificado o seu suicídio com o facto de “não poder tolerar um tal crime da parte do Governo Federal, do Governo Regional e dos seus cúmplices”.

Contudo, o jornal francês “20 Minutes” questionou a polícia de Chemnitz sobre estas alegações, tendo obtido a seguinte resposta: “Não temos conhecimento de tal carta de despedida, ao contrário do que tem sido afirmado em várias publicações”.

De resto, o mesmo jornal apurou que Jendges foi uma das primeiras pessoas do hospital que dirigia em Chemnitz a receber uma dose de vacina contra a Covid-19, em dezembro de 2020. Mais, apoiou a abertura de um centro de vacinação dentro do hospital. Elementos que tornam esta história ainda mais inverosímil.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

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