O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Médico alemão critica tratamento da diabetes em Portugal e apresenta medicamento que cura a doença?

Facebook
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Publicação viral nas redes sociais coloca em dúvida a "forma antiquada" como os médicos em Portugal tratam a diabetes. Ao longo do texto (em forma de entrevista) é apresentado um medicamento que supostamente cura a doença e que não pode ser encontrado nas farmácias. Verdadeiro ou falso?

Um médico alemão que veio a Portugal criticar os métodos de tratamento dos diabetes é o mote para mais um artigo fraudulento nas redes sociais, com o objetivo de vender um medicamento apresentado como milagroso.

“Quero dizer, antes de mais nada, que gosto de Portugal, a cultura portuguesa e os cidadãos portugueses. Mas as abordagens que vocês utilizam para tratar a diabetes chocam os médicos europeus. Seus remédios têm objetivos completamente diferentes. Em qualquer caso no campo da endocrinologia”, terá afirmado o médico Klaus Volker, na suposta entrevista concedida a uma estação de televisão portuguesa, de acordo com a publicação em causa.

A que estação de televisão? Isso não é especificado no artigo e, segundo uma pesquisa feita pelo Polígrafo, nenhuma das principais estações de televisão portuguesas tem qualquer referência a este médico alemão nas respetivas páginas online.

Existe, de facto, um médico alemão chamado Klaus Volker que é especializado em medicina desportiva e tem várias publicações académicas sobre o assunto. No entanto, a fotografia utilizada para ilustrar o artigo não corresponde a Klaus Volker, mas sim a Emil J. Freirecih, um dos investigadores pioneiros no desenvolvimento da quimioterapia combinada para o combate ao cancro. Segundo um artigo publicado na página da MD Anderson Center, pertencente à Universidade do Texas, EUA, “esta técnica leva à cura de mais de 90% das crianças com leucemia linfoblástica aguda, uma doença que era quase fatal antes do estudo de Freirecih”.

Também o nome da clínica referida no artigo como “mundialmente famosa” tem uma pequena alteração em relação à realidade. No artigo é apresentada como “Centro de Endocrinologia de Stuttgart – Tumorzentrum Eva Mayer-Stihl”, mas na realidade denomina-se como Centro de Cancro Stuttgart – Centro de Tumores Eva Mayr-Stihl (ou Stuttgart Cancer CenterTumorzentrum Eva Mayr-Stijl, na denominação original).

A diabetes é uma doença crónica, o que significa que não tem cura e implica tratamentos ao longo de toda a vida. Segundo o Manual MSD, o tratamento desta doença consiste em “dieta“, “exercício“, “perda de peso” e “educação“, cuidados que deverão ser associados a medicação específica, dependendo do tipo de diabetes.

“Dieta, exercício e educação são os pilares do tratamento do diabetes e muitas vezes são as primeiras recomendações dadas a pessoas com diabetes leve. Perder peso é importante para pessoas que estão com excesso de peso. As pessoas que continuam a ter níveis elevados de glicose no sangue apesar de terem feito mudanças no estilo de vida e as pessoas com diabetes tipo 1 (independentemente dos seus níveis de glicose no sangue) também precisam de medicamentos“, informa-se no manual.

No artigo são ainda enumerados alguns medicamentos – nomeadamente “Metformina, Siofor, Glucofage, Vildagliptina” -, indicando que “não podem curar a diabetes mellitus”. Esta afirmação é verdadeira, uma vez que a doença não tem cura. Estes medicamentos são utilizados para retardar os efeitos da doença, tais como perda de sensibilidade, doença renal crónica, perda de visão e aumento do risco de ataques cardíacos e acidentes cardiovasculares.

O texto está orientado para levar as pessoas a desconfiarem das farmacêuticas e dos médicos, optando por produtos alternativos que prometem uma cura milagrosa. É nesse sentido que, no final do artigo, surge uma promoção para a aquisição do “Suganorm”, um medicamento que supostamente é utilizado na Europa e cura a diabetes. Importa salientar que o cabeçalho da página – com a aparência de um menu de conteúdos de “Notícias”, “História”, “Análise” e “Jogos” – direciona sempre os leitores para a parte do artigo onde surge a publicidade ao medicamento e uma “promoção exclusiva de 50% sobre o preço real”.

Este modelo de conteúdo fraudulento é muito comum nas redes sociais, recorrendo à falsificação de nomes e imagens com o intuito de vender produtos, neste caso com a agravante de ser um medicamento que supostamente cura a diabetes. São talvez as fake news mais perigosas, colocando em risco a saúde de quem for enganado.

***

Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Em destaque