Na entrevista desta noite de Marta Temido na RTP, o jornalista recordou uma declaração proferida em 2021 por Elisa Ferreira, Comissária Europeia para a Coesão e Reformas, quando considerou que “é penoso ver que Portugal, com tantos anos de apoio [do Fundo de Coesão da União Europeia], ainda está entre os países atrasados“. Importa aqui salientar que se referia ao facto de o Fundo de Coesão ser destinado aos Estados-membros cujo rendimento nacional bruto per capita seja inferior a 90% da média da União Europeia, daí a expressão “atrasados”.
Posto isto, o jornalista sublinhou que “o PS governou dois terços do tempo em que estivemos a receber estes subsídios”, período em que “foi ultrapassado por vários países da Europa mais pobres e que estiveram menos tempo a receber dinheiro da União Europeia”, e lançou então a pergunta: “Como é que explica isto?”
A ex-ministra da Saúde e candidata do PS nas eleições para o Parlamento Europeu começou por desviar a resposta para a “diferenciação de competências” e dados sobre a frequência do Ensino Superior, mas o jornalista insistiu na questão de termos sido ultrapassados e especificou os países: Estónia, Lituânia e Polónia.
“Olhe que não”, repetiu várias vezes Temido. No início parecia estar a negar que Portugal esteja “mais pobre” (no sentido em que, mesmo tendo sido ultrapassado por vários países, o respetivo PIB per capita não ter deixado de aumentar), mas perante a insistência do jornalista com a indicação específica dos países e perguntas mais diretas – “está a negar estes factos? não fomos ultrapassados por estes países no PIB per capita?” -, a candidata do PS reiterou que “não” e disse mesmo que teria esses dados nas “cábulas” que levou para a entrevista. Mas não chegou a mostrar esses dados.
Portugal foi ou não ultrapassado por países como a Estónia, Lituânia e Polónia no Produto Interno Bruto (PIB) per capita?
Esta alegação sobre a ultrapassagem por países que aderiram mais recentemente à União Europeia (sobretudo da Europa de Leste) tem sido repetida por vários dirigentes políticos, sobretudo do PSD e do Iniciativa Liberal, ao longo dos últimos anos. Foi classificada aliás como verdadeira em diversos artigos de verificação de factos do Polígrafo.
Mas esses artigos baseavam-se nos dados apurados até então – 2021 ou 2022 – pelo Eurostat.
De acordo com os dados compilados pelo Eurostat, ao nível do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, em Paridades de Poder de Compra (PPC), Portugal baixou de 78% da média da União Europeia (com 27 Estados-membros, excluindo desde logo o Reino Unido que deixou de ser membro em 2020) em 2015, quando António Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro, para 74% em 2021.
Entre os atuais 27 Estados-membros, Portugal ocupava a 17ª posição em 2015, tendo caído para a 21.ª posição em 2021.
Aprofundando a pesquisa nos dados do Eurostat, de forma a recuar até 2001, verificamos que nesse ano Portugal registava 84,1% da média da União Europeia (com os atuais 27 Estados-membros).
Encontrava-se assim na 15.ª posição, à frente (por ordem decrescente) da Eslovénia, Malta, Chéquia, Hungria, Eslováquia, Croácia, Polónia, Estónia, Lituânia, Letónia, Bulgária e Roménia.
Importa aqui salientar que 13 países ainda não eram membros da União Europeia em 2001.
Ora, apenas em 2004 é que entraram Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia e República Checa. Por sua vez, a Bulgária e a Roménia passaram a integrar a União Europeia em 2007, ao passo que a Croácia só avançou em 2013.
Em 2021, Portugal caiu para a 21.ª posição do ranking do PIB per capita (em PPC), tendo sido ultrapassado por seis países na comparação direta com 2001.
A saber: Eslovénia (14.ª posição), Malta (11.ª posição), República Checa (13.ª posição), Hungria (20.ª posição), Polónia (19.ª posição) e Lituânia (15.ª posição).
Já em 2022, Portugal subiu para a 20.ª posição, com 79% da média da União Europeia, voltando a ultrapassar a Hungria. Ainda assim, nesse ano de 2022 mantinha-se abaixo da Lituânia, Estónia e Polónia.
O problema é que entretanto foram divulgados os dados referentes a 2023 (ainda provisórios, ressalve-se) e, neste indicador, Portugal voltou a subir para a 18.ª posição, com 83% da média da União Europeia. Mantém-se abaixo da Lituânia, mas voltou a ultrapassar a Estónia e a Polónia.
Em suma, não há dúvida que foi ultrapassado, mas em 2023 recuperou algumas posições e voltou a ficar acima da Estónia e da Polónia. O mesmo não se aplica à Lituânia, além de outros países (não referidos pelo jornalista) como a Eslovénia, Malta e Chéquia.
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Avaliação do Polígrafo: