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Marques Mendes recorda que Sampaio também anunciou a sua candidatura às presidenciais “com um ano de antecedência”. É verdade?

Política
O que está em causa?
"Esta antecipação [do anúncio da sua candidatura às eleições presidenciais] não é completamente nova. Jorge Sampaio, há muitos anos atrás, anunciou a sua candidatura exatamente na mesma ocasião, no mesmo mês de fevereiro. Com também um ano de antecedência. E ganhou as eleições", afirmou Luís Marques Mendes ontem à noite (10 de fevereiro), na entrevista à TVI/CNN Portugal.

Questionado sobre “porque é que avançou tão cedo” com a sua candidatura à Presidência da República, “a praticamente um ano” das eleições, Luís Marques Mendes respondeu que foi “sobretudo por uma questão de coerência”, na medida em que tinha defendido que não se deveria fazer comentário político “com uma agenda“, o que seria impossível de manter a partir do momento em que decidiu participar na corrida ao Palácio de Belém.

Na entrevista de ontem (10 de fevereiro) à TVI/CNN Portugal, o advogado e ex-comentador televisivo reconheceu porém “que é um tempo longo, sem dúvida. Que é um risco ter um tempo longo, também não tenho a esse respeito grandes dúvidas”. Nesse sentido defendeu que “é preciso haver algum talento, da minha parte e de outros candidatos que também venham a surgir, para gerir todo este tempo sem – por exemplo – cair no risco da banalização”.

“Agora, esta antecipação, chamemos-lhe assim, também não é completamente nova”, ressalvou logo a seguir. “Jorge Sampaio, há muitos anos atrás, anunciou a sua candidatura exatamente na mesma ocasião, no mesmo mês de fevereiro. Com também um ano de antecedência. E ganhou as eleições”.

Marques Mendes tem razão neste ponto?

Sim. No dia 7 de fevereiro de 1995, o então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Jorge Sampaio, anunciou a sua primeira candidatura à Presidência da República, na Reitoria da Universidade de Lisboa.

De facto, a cerca de um ano dessas eleições presidenciais que se realizaram no dia 14 de janeiro de 1996 – vitória de Sampaio com 53,91% dos votos, frente a Aníbal Cavaco Silva que obteve 46,09%, após as desistências dos outros dois candidatos, Jerónimo de Sousa e Alberto de Matos.

No segundo volume da sua biografia política, da autoria do jornalista José Pedro Castanheira, o próprio Sampaio revelou que António Guterres ficou “absolutamente à rasca” por ter anunciado a candidatura ao Palácio de Belém à margem do PS, mas sublinhou que essa foi a forma de “manter a independência até ao fim”.

Sampaio não era o candidato pretendido por Guterres, então líder do PS e Primeiro-Ministro em exercício, pelo que teve de se antecipar para marcar terreno e condicionar o eventual apoio do PS a outro candidato da sua área política.

Peguei no telefone, fez-se um silêncio absoluto e todos os que estavam ouviram a conversa: ‘Oh Guterres, é só para lhe dizer que vou anunciar a minha candidatura dentro de dias'”, contou Sampaio, referindo-se ao telefonema em que disse a Guterres que iria avançar com a candidatura.

“Eh pá! Você não nos vai fazer uma coisa dessas! Com certeza que o apoio, mas o partido ainda não está preparado, é preciso discutir melhor”, terá respondido Guterres, segundo o relato de Sampaio na sua biografia política.

Guterres ainda lhe perguntou se “não podia adiar uns dias” o anúncio, ao que Sampaio respondeu que não.

Por sua vez, Marques Mendes também avançou cerca de um ano antes das eleições presidenciais, mas a analogia com o caso de Sampaio não vai além desse pormenor de calendário, porque o apoio do PSD não estaria em causa. A história parece repetir-se, sim, no PS, com a antecipação de António José Seguro, enquanto ainda se perfilam outros candidatos do mesmo partido.

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Avaliação do Polígrafo:

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